
A incapacidade dos governantes brasileiros de preverem os
resultados de suas lambanças econômicas é impressionante. Nem sequer os
interesses do capital financeiro explicam tal incompetência. As pessoas são
guiadas por ideologias, saibam ou não, gostem ou não, e acreditam que se guiam
por seus interesses reais. Seus interesses estão de fato escondidos por trás
das ideologias, mas não com grande capacidade de adaptação. As ideologias não
são ciências, e oferecem as mesmas fórmulas para realidades que mudam cada dia
mais rápido. Observemos.
O argumento dos defensores da contra-reforma da previdência
é neo-malthusiano. Malthus foi um pensador que ficou conhecido sobretudo pela
sua idéia que foi derrubada de forma mais retumbante pela realidade. A
população cresce em progressão geométrica, e as terras são limitadas, de forma
que a produção agrícola, supôs Malthus, só poderia crescer no máximo em
progressão aritmética. Sendo assim a fome e a miséria seriam inevitáveis! Pelo
contrário, desde o tempo de Malthus a produção agrícola cresceu muito mais do
que a população. Hoje sobra comida, e só há fome devido à má distribuição.
Produzimos na Terra alimentos para várias vezes a população do planeta! E nossa
tecnologia continua crescendo!
A tese dos defensores da reforma da previdência é que a
população vive cada dia mais, diminui o número de jovens, e o número de
trabalhadores por aposentado é cada vez menor. Verdades! Daí, concluem nossos
malthusianos, faltará recursos para todos os aposentados! Acreditam, como
Malthus, que a produção só pode crescer com o crescimento dos braços e do
capital! Não entendem que se no passado existiam cinco trabalhadores por
aposentado, esses cinco juntos não produziam metade do que um sozinho produz
hoje!
Claro que é difícil para um empresário, que vê o mundo como
uma empresa, compreender que não há relação necessária entre o número de
aposentados e o número de trabalhadores. A visão do século XIX de previdência é
de uma empresa, cujos sócios são os trabalhadores contribuintes, que assim
pagam para terem aposentadoria. Então havia sentido em se pensar no número de
contribuintes por aposentado. Além de ser uma visão limitada, que não permite
avançar nos reais interesses econômicos da nação, é injusta, pois desconhece
que toda a riqueza é produzida pelos trabalhadores, de forma que qualquer um
que trabalha já está contribuindo para a sociedade o suficiente para ter
direito a se aposentar.
Deixemos, porém, a justiça de lado, e nos concentremos em
nossos interesses econômicos enquanto sociedade. Precisamos do oposto completo
dessa reforma e de quase tudo que tem sido feito! Os recursos sobram, temos
desperdício, temos obesidade como graves e crescentes problemas. Faltam
empregos! Nos tempos ditos bons de Lula chegamos a 50 milhões de carteiras
assinadas, para 200 milhões de habitantes. Já era pouco! Caímos para 39
milhões! As indústrias estão ociosas, com máquinas paradas, funcionários em
férias coletivas. Em um quadro desses, qualquer medida que desestimule os
empregos, que dificulte as aposentadorias, já está atrapalhando. Aliás, falar
dessas coisas já atrapalha a economia!
Precisamos do oposto! Precisamos que os trabalhadores mais
velhos se aposentem para dar vagas aos mais novos, até porque eles não agüentam
mais. Precisamos acabar com leis mal feitas que desestimulam as empresas a
empregar. Talvez o principal exemplo sejam as contribuições previdenciárias,
que devem ser extintas (com exceção do FGTS, a não ser que volte a garantia de
emprego). Que se tire o dinheiro de qualquer outra fonte, que não faltam, em um
país tão rico que se dá ao luxo de não cobrar impostos sobre grandes fortunas,
sobre movimentação financeira, sobre grandes propriedades rurais inativas,
sobre igrejas, e ainda doa 47% do orçamento da União para banqueiros e outros ladrões.
Por que os atuais e depostos governantes são tão incapazes?
Existe, primeiro, a limitação ideológica (daí intelectual), segundo, a
limitação de infraestrutura do país (oriunda do fanatismo liberal), terceiro,
por medo da desmoralização completa do capitalismo financeiro, que não tem mais
sentido para as sociedades depois de 1973.
1 – São liberalóides fanáticos, e no caso de Dilma e Temer,
do pior tipo, o monetarista! Acreditam que é mais necessário que tudo manter a
estabilidade da moeda, e que para isso é proibido emitir moeda sem lastro, o
que geraria inflação. Quando as moedas eram de ouro e prata essas duas crenças
já eram erradas e os financistas mais inteligentes, como Mauá, entendiam isso.
Uma inflação muito alta realmente é prejudicial aos
trabalhadores, mas uma inflação moderada é melhor do que desemprego,
criminalidade, insegurança etc. Só para um setor entre os capitalismo realmente
é importante a estabilidade da moeda – os capitalistas financeiros! Para quem
pega dinheiro nos EUA e investe no Brasil é necessário trocar dólares por
reais, e depois os lucros precisam ser trocados de reais para dólares. Se o
lucro for 10% e o real ao mesmo tempo se desvalorizar 10% em relação ao dólar,
o investidor não ganhou nada!
Como os capitalistas financeiros, esses que não trabalham,
não gerenciam, só especulam, são hoje os dominantes em todo o mundo, a
ideologia deles é a dominante, como de fato percebemos. Contudo, derrubar a
economia vai derrubar a arrecadação, reduzindo o que se pode roubar do Estado,
e vai derrubar os lucros das empresas desses financistas. Sendo assim, como
avancei no início do artigo, a ideologia não se adaptou.
Ademais, também não é correto que conter a emissão de moeda
contem a inflação. Os bancos privados, quando emprestam dinheiro, estão
emitindo moeda. Um caloteiro, quando dá um cheque sem fundos, está emitindo
moeda! Um governo não tem o controle sobre a moeda que os monetaristas imaginam
em seus sonhos.
Existe ainda um fator que os monetaristas desconhecem, a velocidade de circulação da moeda! Retirar moeda de circulação não muda nada se ela circular mais rápido, e colocá-la em circulação não muda nada se ela circular mais devagar.
Existe ainda um fator que os monetaristas desconhecem, a velocidade de circulação da moeda! Retirar moeda de circulação não muda nada se ela circular mais rápido, e colocá-la em circulação não muda nada se ela circular mais devagar.
A comparação entre os governos Lula e Dilma é outra prova.
Lula, mesmo acreditando que estava errado, abriu as torneiras de dinheiro, e
isso não gerou a inflação dos pesadelos monetaristas. Dilma, crente
liberalóide, fechou as torneiras! Resultado? Foi Dilma que gerou inflação e
derrubou a economia, como o São João Del Pueblo denunciou que ela estava
anunciando que faria ainda em 2011 (Vide Dilma está chamando a crise para o
Brasil).
2 – Existem limites reais, sim, para qualquer economia. Se
se livrar dos parasitas que no governo e por interesses mesquinhos a limitam,
nossa economia esbarrará em algum outro gargalo, mas dessa vez real. Atualmente
o problema é de infraestrutura. Os liberalóides há 40 anos esperam que a
iniciativa privada construa nossa infraestrutura e nossa indústria de base. O
resultado é que o país se desindustrializou. Todos se lembram de reportagens
recentes sobre engarrafamentos de dois dias no porto de Santos, e todos se
lembram que antes mesmo da seca de 2013 o país já estava quase sofrendo
apagões. Para evitar apagões em ano eleitoral, o governo comprou de volta cotas
de energia elétrica, gerando desemprego.
Os liberais preferem impedir o crescimento do país do que
admitirem que o mercado é incapaz de gerar o desenvolvimento do Brasil sem
forte apoio e intervenção estatal. Não podem admitir que só o Estado é capaz de
multiplicar nossa infraestrutura e nossa indústria de base na velocidade
necessária. Se o pais crescer, e faltar energia, o liberalismo é que fica no
escuro.
3 – Por fim, é necessário justificar o roubo de 47% de nosso
orçamento! A papelada inútil dos financistas tem que parecer valer alguma
coisa. O fetiche do dinheiro tem que ser mantido!!! Para um Estado, contudo,
moeda mesmo é só a estrangeiro, o ouro e a prata, ou seja, divisas. A moeda que
um governo emite só é dinheiro para ele mesmo se ele quiser muito manter esse
estado de coisas. Para um Estado seus recursos são a mão-de-obra disponível, a
matéria prima, a energia instalada. O capital para um Estado não é a papelada
que ele mesmo emite (seria até ridículo, pois o capital seria então
multiplicável ou inflamável), mas parte do que já citamos. Por exemplo, para
ter energia é necessário que antes alguém tenha criado usinas e uma rede de
distribuição, e isso, sim, é capital para uma sociedade ou para um Estado.
Também quando falamos de mão-de-obra existe uma parcela dela de formação
difícil e cara, e isso é capital para uma sociedade. A única necessidade que um
país como o Brasil tem portanto de qualquer investimento estrangeiro é do que
for obrigado a importar, sejam matérias primas muito raras ou tecnologia.
Portanto, quando nosso governo toma dinheiro emprestado, não é um empréstimo,
mas uma forma de saquear dinheiro público e doar para algum ladrão que não deu
nada em troca, visto que seu dinheiro é inútil. Quando nosso governo deixa de
emitir moeda e investir ele mesmo, e deixa estrangeiros converterem sua moeda
em reais e os emprestarem aos brasileiros, está somente permitindo o saque das
riquezas e sobretudo, da mão-de-obra nacional. A confissão de que não é
necessário conter gastos está a um passo da confissão de que o governo não
precisa continuar endividado. Seria o apocalipse do capitalismo, de forma que
os capitalistas terão que continuar vivendo, enquanto puderem, na mais idiota
das mentiras.
Comentários
mas que tipo de leis são essas?
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