Não é somente em São João del-Rei que as propostas dos
partidos realmente socialistas e comunistas são consideradas irreais,
impossíveis, irrealizáveis. Como praticamente sempre essas propostas são
propostas de fortalecimento popular, de verdadeira democracia, o que existe
então é um forte sentimento popular de impotência.
A população toda sabe que os votos são comprados e vendidos,
que o dinheiro é que movimenta as máquinas eleitorais, de forma que se a frente
socialista não compra votos e não queima dinheiro público é considerada fora do
jogo. Ou seja, a população toda, ou 99%, que não compra votos nem sonha em
gastar dinheiro nenhum com política,se sabe fora do jogo político. Cabe aqui o
velho ditado sempre usado em referência ao povo: “Se o boi soubesse a força que
tem, não iria para o matadouro”. O povo ainda acredita que só pode o que já
faz, ou seja, tentar adivinhar de 4 em 4 anos qual político será menos bandido.
São bois que se contentam em escolher o chefe do abatedouro.
Uma de nossas propostas mais importantes, a revogabilidade
dos mandatos, uma bandeira da Comuna de Paris de 1971, por exemplo, é a defesa
de que o povo precisa ter o poder de depor seus governantes com um simples
plebiscito, evitando violências. Não são poucos, porém, que consideram essa
proposta irrealizável, ou seja, grande parte do povo não acredita na
possibilidade de ter o poder de depor os governantes, a não ser no caso de uma
explosão social. Essas pessoas se
reconhecem, portanto, como servos, submissos, como cidadãos de segunda
categoria, impotentes para se garantirem contra qualquer subgovernante de
plantão. Têm para isso até um ditado que devia constar de um Manual do Escravo:
“Quem pode manda, quem tem juízo obedece”, um ditado que reforça a
subserviência.
Outra proposta importante é a própria realização da vontade
popular. Estamos propondo implantar em São João o que se chama “impostos progressivos”,
que já são realidade em vários municípios brasileiros e coisa velha nos países
mais adiantados do mundo. O IPTU, por exemplo, deixaria de ter só uma alíquota,
e seria diferenciado, incidindo mais sobre os ricos e sobre as grandes empresas
, e menos sobre quase todo o povo. Quando o eleitor acha isso irrealizável,
acha impossível pagar menos impostos, é porque já se considera dominado e
roubado, está rendido ao ladrão, em completa impotência.
A grande maioria das pessoas identifica imediatamente nossos
candidatos como pessoas comuns, gente do povo, e mais uma vez ao não acreditar
na vitória de nossos candidatos certamente se projetam neles. Não acreditam na
própria vitória. Uma pessoa simples, pobre, sem vínculos com os caciques da
politicagem nacional, ou seja, como os próprios eleitores, não poderia se
eleger. A impotência está na cultura política de um eleitorado que pensa assim.
Não vamos nos render aos sentimentos de impotência do povo,
nem recuar meio milímetro. Não é tempo de recuar. Também não vamos “entrar no
jogo”, que é na verdade entrar na escola de corrupção. Seria jogar dentro de
uma máquina de fazer corruptos toda nossa militância, de forma que daqui há uns
dez anos os jovens que hoje nos procuram porque têm sentimentos revolucionários
seriam todos bandidos versados na politicagem, mas incapazes de uma revolução.
Nossas propostas “impossíveis” são a única possibilidade. Impossível
é continuarmos como é hoje. Impossível é que um “bom prefeito”, ou “um prefeito
melhor” resolva nossos problemas ou ao menos deixe de criar problemas.
Impossível é um carro quebrado funcionar antes de ser consertado, só porque se
trocou o piloto.
A aliança com um candidato “que pode ganhar”, portanto,
seria para nós não somente uma rendição, uma derrota disfarçada, mas seria
também adotarmos o complexo de impotência do povo. Reforçaríamos a
subserviência, daríamos exemplo de covardia, ao deixarmos de dar um exemplo de
coragem. O Partido Comunista deve fazer alianças, mas não por motivos mesquinhos
ou superficiais como “poder ganhar” ou “para eleger o menos ruim”. Até ao fazer
alianças o Partido Comunista tem que exemplificar coragem.
Precisamos voltar nossas baterias contra o sentimento de
impotência que domina o povo. É hora de parar de chorar as derrotas populares e
começar a lembrar de suas vitórias. É tempo de mostrar caminhos, de falar do
futuro, de varrer o medo e a escuridão.
Vamos continuar esclarecendo às pessoas que o poder deve e pode ser
delas, e vamos explicar como isso é possível, até elas se convencerem. Se até
lá tivermos que passar por malucos ainda será um preço pequeno.
Comentários
muito bons os textos meus camaradas!
falando em futuro, conheçam este trabalho do Crie Futuros, há muitas propostas interessantes, possiveis, realizaveis...
http://criefuturos.com/
um abraço
PEDRO LAGO
Postar um comentário