O CAPITAL PALADINO DOS DIREITOS CIVIS E A CENSURA NAS REDES


Wlamir Silva
Professor e historiador

Você se sente protegido quanto aos direitos civis pelas gigantes corporativas? E com a adesão da congênere Facebook?: "O fundador da empresa, Mark Zuckerberg, também disse que vai proibir anúncios que digam que 'pessoas de raças, etnias, nacionalidades, religiões, castas, orientações sexuais, identidades sexuais ou status de imigração específicos' são uma ameaça aos demais".[1]


Nada contra a preocupação cidadã do grande capital com o "discurso de ódio". Apenas caberia, ao menos, relativizar o discurso de que os interesses de "minorias", identitários, seriam um incômodo para este grande capital, e então "antissistema". De resto, é muito bom que a discriminação de cor, etnias e nacionalidades, orientações sexuais, gênero etc. etc. As corporações são poderosas e tais demandas não conflitam com o sistema por elas comandado.

O problema envolvido é o da liberdade de expressão e da censura. Uma das questões levantadas é a de que isso é de âmbito privado, tanto quanto às empresas que fazem um boicote como quanto às empresas de redes sociais. Haveria censura no privado, ou aí seria escolha empresarial? Mas, o fato de as redes sociais não serem concessões públicas, como as rádios e tevês, as põe a salvo das exigências de liberdade e a não censura?

Em seguida, vem o exercício desta censura. É certo que a apologia ao racismo e a qualquer discriminação, quando estímulo a ela e à violência, pode ser limitada. Mas isso pode ser feito por meio privado? Ou poderia ser garantido por meio privado contra a legislação de Estado? Mas como isso é feito a partir de algoritmos? E quem pode dizê-lo? E isto em milhões e milhões de usuários.

A lógica algorítmica e as verificações de tipo massivo tendem a confundir meros vocábulos e observações não lineares com discurso de ódio. Elas são incapazes de absorver contextos e construções um pouquinho mais complicadas, além do humor e da ironia. Além de visões mais conservadoras, mas que não configuram "discurso de ódio". Exclusões e suspensões de perfis por motivos tolos já se multiplicam nas redes.[2]

Há neste movimento - que se soma às iniciativas estatais de controle da internet - uma dupla falácia: 1) o da supervalorização deste discurso no conjunto das redes sociais; 2) o da eficácia da censura em seu combate. E aí se entende a forma preferida pelo capital corporativo - e setores do Estado: a desqualificação da eficácia do debate público, de sua pedagogia, pelo controle e pela censura. Forma que entusiasma certos grupos políticos igualmente descrentes da Ágora moderna...





[1] Por que gigantes como Starbucks, Coca-Cola, Unilever e Diageo suspenderam publicidade nas redes sociais. Época negócios. 29 JUN 2020. https://epocanegocios.globo.com/Empresa/noticia/2020/06/por-que-gigantes-como-starbucks-coca-cola-unilever-e-diageo-suspenderam-publicidade-nas-redes-sociais.html
[2] Se você leu até fim e tem um exemplo destes fatos, conte e comente...

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