A vitória das viúvas da ditadura - onze assuntos



1 – A culpa não é do povo ignorante

Os ignorantes têm a parte menor da culpa por serem ignorantes. Quem tem a maior parte da culpa de um povo ser ignorante é a elite intelectual do mesmo país! São os intelectuais, termo pelo qual defino todos os que trabalham com as ideias como seu objeto principal de trabalho (é portanto o conceito usado por Lênin, mais amplo que o tradicional que só abrange uma minoria de gênios, e mais restrito que o conceito de Gramsci, em que quase toda a humanidade é intelectual), que podem protagonizar a luta contra a ignorância, não os próprios ignorantes. Ou seja, nós eleitores do Ciro é que temos culpa pelo grande número de eleitores de Bolsonaro e do PT (sejam as urnas fraudadas ou não). Nossa culpa não está em nada que fizemos nessa campanha, mas no que não fizemos nos últimos 30 anos.


2 – A culpa não é da internet nem das mentiras

Esse tipo de eleição, em que o universo de eleitores é muito grande e poucos eleitores realmente conhecem os candidatos pessoalmente, é uma fábrica de mentiras. Na verdade, tudo nelas é mentira, porque a imagem que os candidatos tentam passar é uma farsa, e o que os adversários dizem deles quase sempre também é. Nada disso é fruto da internet, mas das próprias eleições.

As próprias mentiras, por sua vez, não são as culpadas, nem os mentirosos. As mentiras ditas por todos os lados só colam para determinados eleitores. São, a rigor, mentiras feitas por encomenda para quem já tem aqueles mesmos medos. Quem acredita em PT comunista, acabar com a corrupção derrotando o PT, acabar com a violência facilitando a posse de armas, acredita que as escolas são dominadas por comunistas etc. já tem um grau de ignorância que o permite (ignorância, diferente de burrice, é desconhecimento, ou seja, todos os seres humanos nascem 100% ignorantes e essa taxa diminui durante a vida). Da mesma forma, quem acredita que se o PT perder as eleições teremos o fascismo, ou que a maioria dos eleitores de Bolsonado são fascistas, ou que o PT tirou milhões de pessoas da miséria etc. já está previamente propenso a isso por determinado grau de ignorância. Uma mentira não é capaz de subverter todo o conhecimento prévio de um ser humano, seu valores etc.

A única coisa que a internet fez foi aumentar a velocidade com que as mentiras se espalham, mas também aumentou a velocidade com que elas são desmentidas.


3 – Eleições nunca serviram para mudar um país para melhor (para pior, sim). Seria muito fácil libertar a maior colônia do mundo (o Brasil) se para isso bastasse eleger um presidente. Por outro lado, sempre foram excelentes termômetros! Essas eleições retrataram o Brasil! Se as urnas foram fraudadas foi para prejudicar Ciro Gomes, único candidato que desafiava o capital estrangeiro, mas a força de Bolsonaro é real.

3.a – Eu errei a respeito de quanto poderia crescer Bolsonaro. Eu já até sabia que mulheres votavam em machistas, negros em racistas, gays em homofóbicos, mas pensava que votavam em machistas, racistas e homofóbicos enrustidos, não em um explícito, como foi o caso. Sendo metade do Brasil mulheres e metade negros, eu imaginava que Bolsonaro não poderia passar muito dos 25%. Se ele teve quase 50% dos votos úteis, cerca de metade do eleitorado dele necessariamente se divide entre mulheres e negros, porque os homens brancos são somente 25% da população. Escancara um dos maiores problemas do Brasil, a falta de amor próprio, que é meio que a essência sentimental da direita latino americana.

3.b – Eu também errei ao acreditar que a direita não se uniria em torno de Bolsonaro. A direita resolveu seus problemas internos rapidamente, abandonando o lado mais fraco a despeito do conservadorismo.

3.c – As decisões políticas se revelaram, mais uma vez, muito mais definidas por classes sociais do que por cor, gênero etc., porque a escolha entre direita e esquerda é uma escolha de classe. O fato de existirem pobres votando na direita não muda isso em nada, na verdade é normal. Se as classes dominantes não tivessem capachos, não seriam dominantes! A escravidão não duraria um mês se parte dos escravos não fossem submissos, puxa sacos etc. O que define a posição de classe de uma força política é que as classes dominantes em sua quase totalidade se concentram quase sempre em só um lado (se não for assim, normalmente vive-se uma crise). Dito isso, eis o principal motivo pelo qual muitos negros, mulheres e gays votaram em Bolsonaro – são negros, mulheres e gays de direita! São de direita ou bem porque se consideram beneficiados, têm medo de perderem o que consideram uma posição boa, ou bem porque são “agregados”, submissos, escravos, nesse segundo caso ou por pobreza intelectual, ou por pobreza financeira mesmo.

Que a esquerda aprenda com isso! Passou 20 anos tratando de assuntos secundários, e abandonou o trabalho de fortalecer os trabalhadores. No caso petista tentou-se mesmo esquecer a existência das classes sociais. A “genial” intelectualidade ocidental tem feito de tudo para negar a existência mesmo das classes sociais. Mas parece que as classes não estão nem ai para esses intelectuais.

3.d – Não é Bolsonaro que torna seus eleitores defensores de soluções autoritárias, obscurantistas, homofóbicos, machistas, racistas etc. Pelo contrário, porque são assim é que seus eleitores o elevaram a símbolo disso tudo. Da mesma forma, não foi Lula que criou o clientelismo no qual o PT hoje vive, nem o peleguismo sindical, nem o messianismo etc. Ou seja, os resultados eleitorais refletem um país mal educado (voltamos à culpa dos intelectuais).

3.e – A população busca um salvador da Pátria. Seja em um mártir preso, seja em um militar, seja mesmo na candidatura que apoiei, Ciro Gomes. É infantil! Não é de se estranhar, portanto, que essas crianças também tenham bichos papões, como o fascismo e o comunismo.


4 – A direita cresceu, a esquerda diminuiu. Mas não são a mesma direita e a mesma esquerda. O antipetismo quase elegeu Bolsonaro no primeiro turno! Jogar a culpa do antipetismo nos antipetistas é redundância. O antipetismo foi gerado mais pelo PT que pelos antipetistas. Em diversos países do mundo, no passado, governos que se denominavam de centro esquerda e governaram de forma petista, traidora, geraram fortalecimento da direita. Que sirva de lição! Pode estar nascendo uma nova esquerda, e precisa superar os erros petistas, e mais que isso, a imoralidade petista.

A impopularidade de Temer não atingiu Bolsonaro, que é visto por seus eleitores como inimigo das instituições. A velha direita realmente sumiu. Bolsonaro é uma direita dos tempos de crise, que representa o anseio de mudança, embora mudanças absurdas. A velha direita era absolutamente conservadora. A crise do regime político é maior do que se esperava!

O PT, por mais governos que eleja, e mesmo que eleja Haddad presidente, está ferido de morte. Rejeição não diminui com facilidade. Ademais, o PT é que se mata dia após dia. Suas sujeiras contra a candidatura de Ciro Gomes, por exemplo, o tornaram insuportável até mesmo em seu próprio campo político. Surgiu uma nova centro esquerda, em torno das propostas e do nacionalismo de Ciro Gomes.

Em números, Aécio teve 35 milhões de votos no primeiro turno em 2014, e 51 milhões no segundo. Bolsonaro teve 49 milhões no primeiro turno, e se receber todos os 5 milhões de Alckmin no segundo turno já terá 54 milhões, que é o que Dilma teve no segundo turno. Dilma teve no primeiro turno 43 milhões de votos, e Haddad teve (segundo as urnas) 31 milhões. Marina teve 22 milhões de votos em 2014, e o terceiro colocado dessa vez teria tido (segundo as urnas suspeitas) somente 13 milhões de votos. Em 2014 a quarta colocada foi de esquerda, mas somente com 1,6 milhão de votos, enquanto em 2018 foi Alckmin, que com toda a máquina, tempo de TV etc. ficou só com 5 milhões. Em 2014 os votos de Marina se dividiram no segundo turno. Em 2018 é provável que a maioria dos votos de Ciro caiam para Haddad, outra grande parte para os nulos, e só uma pequena parcela para Bolsonaro. Brancos, nulos e abstenções se mantiveram no mesmo patamar de 2014, cerca de 40 milhões.


5 – O regime de 1988 entrou em nova fase de sua crise iniciada em 2013.

5.a – As viúvas da ditadura não são somente Bolsonaro e seu vice, mas grande parte de seus eleitores! Na medida em que o regime de 1988 entrou em crise, as viúvas da ditadura criaram coragem para abrir a boca. Votar em Bolsonaro para grande parte de seu eleitorado foi um voto contra o regime de 1988. Essa declaração de guerra à 6ª República quase venceu no primeiro turno!

5.b - Tanto o candidato do PT quanto o candidato a vice de Bolsonaro defendem a necessidade de uma nova Constituição, e estão certos. Já em 2013, Dilma prometeu isso ao povo, não porque ela quisesse, mas provavelmente porque os serviços de inteligência explicaram para ela que com base no estudo dos cartazes, entrevistas com os manifestantes etc. o que estes realmente queriam era um novo regime político, que chamavam em seus cartazes de “nova política”, “mudar A política” etc. Há alguns meses até uma comentarista da Globo afirmou a necessidade de uma Constituinte política, ou seja, para reformar só a organização política do país. Há cerca de um ano, quando o mesmo general Mourão falou a favor de uma intervenção militar, eu escrevi um artigo dizendo que não se deveria ter medo de uma intervenção, e que seria muito bom que ela nos desse uma nova Constituição. Fui expulso do PCB por isso, mas mantive e mantenho a mesma opinião. O Brasil precisa de uma nova Constituição, venha ela pela forma proposta pelo PT, ou pela forma proposta pelo general Mourão. Se ela não se adaptar, será só mais um capítulo da crise política, e durará pouco, e precisaremos de uma terceira, e assim por diante. A crise política só vai acabar quando um novo regime político estiver legitimado.

5.c – Além disso Álvaro Dias falou da “refundação da República”, Ciro falou de usar os poderes imperiais que os presidentes têm no primeiro semestre de governo para fazer uma séria de reformas, para não falar que Daciolos, Boulos e Veras.

5.d – Ao invés de discutir sonhados fascismos, era a hora de discutir o conteúdo da próxima Constituição.


6 – Não é possível prever o que Bolsonaro fará, mas é possível dizer o que nenhum governo fará:

6.a – Restaurar a família – Muito idiota votou em Bolsonaro supostamente em defesa da família. Haja ignorância! Família é uma realidade histórica, mutável, por forças muito maiores que governos. O que está revolucionando as famílias há 200 anos é a Revolução Industrial, e nada que Bolsonaro ou o Congresso façam vai sequer conter a dissolução familiar atual. Nem mesmo uma mudança de regime político pode influir nessa história, mas tão somente uma mudança do regime (modo) de produção.

6.b – Contra o ateísmo – Se tem uma coisa que governos com apoio explícito de religiosos podem fazer é enfraquecer a fé.

6.c – Mulheres – Por mais idiotices que diga sobre as mulheres, Bolsonaro não poderá fazer nada contra elas. O máximo que consigo imaginar é impedir a descriminalização do aborto. Mas isso muda as coisas em que? As mulheres continuarão abortando, e milhares continuarão morrendo em clínicas clandestinas. Descriminalizar não faria as clínicas de mulheres pobres se tornaram melhores, e as de mulheres ricas já são boas a despeito de serem legais ou não. Aborto pelo SUS é piada, porque quando fosse aprovada a criança já estaria escrevendo. Ou seja, na prática a proibição do aborto é só uma hipocrisia e uma forma de reduzir a demanda do SUS.

6.d - Negros – O vice de Bolsonaro não é branco, e sabe disso. Ele diz bobagens, mas não vai reprimir os negros. Não há nada que um presidente da República possa fazer contra os negros, e nem acredito que ele pretenda nada disso. A única coisa que os homens brancos estão ganhando com essa vitória eleitoral é uma balsamo para seu gigantesco orgulho ferido pelos recentes avanços da população negra. O máximo que consigo imaginar é que ele acabe com as cotas para negros. Porém, isso seria uma atitude antirracista, porque admitir a existência de raças é que é racismo. Ademais, seria acabar com uma farsa, porque 99% da população negra não se beneficia com as cotas, de forma que as cotas são somente uma forma de justificar que a maioria dos negros continue pobre – apontar para a minoria cotista e dizer, se esses podem, porque os outros não podem?

6.e – Homofobia – Os gays não vão voltar para os armários! Não há nada que um governo possa fazer nesse sentido. O que vai acontecer é a decepção final dos homofóbicos, que descobrirão que mesmo com governantes homofóbicos não podem conter a liberdade sexual.


7 – “A democracia” não está em risco, porque nunca existiu.

Ou melhor, existiu um sistema político em Atenas, Cios e centenas de outras cidades gregas (um diferente do outro na verdade) que foi genericamente chamado de “democracia” por seus adversários. Seria ruim, para esses que inventaram o termo, porque seria o governo do povão ignorante. Depois existiram, em diferentes épocas históricas, regimes políticos muito diferentes entre si, que se denominaram “democracias”. Atualmente, por exemplo, existem as autodenominadas “democracias ocidentais”, presidencialistas na América quase toda, parlamentaristas na Europa quase toda.

Contudo, na prática, concordo com os anarquistas e os marxistas quando dizem que todo regime político, desde que surgiu a civilização há 5 ou 7 mil anos, é uma ditadura. Existem ditaduras explícitas, e ditaduras que se disfarçam com algumas liberdades e direitos. Uma democracia, na prática, é uma ditadura com liberdades e direitos com os quais se abrandam os desmandos ditatoriais.

Devo acrescentar por minha conta que assim como não existem mesmo regimes em que a maioria absoluta do povo decide, não existe de verdade regime controlado por um homem só. Democracia e monarquia são dois disfarces, duas autodenominações, propaganda. Toda regime político é sim uma ditadura, sempre de uma minoria, mas essa minoria é sempre uma parcela perceptível da população, a classe dominante e as aliadas, para usar termos de marxistas, ou a elite política, para usar termos de Mosca e Pareto, que ou controlam o povo, ou controlam o rei/ditador. Essas ditaduras podem ser portanto somente de dois tipos na sua essência – oligarquias ou aristocracias. Por oligarquia estou denominando regimes como o brasileiro, em que os poucos (oligos) que dominam são parasitas, incompetentes, que só afundam o país. Por aristocracia estou denominando regimes em que a minoria dominante são os melhores, os mais capazes, de selecionados (arisco). Não nego com isso que o Estado seja fruto da luta de classes. Se uma classe domina de forma oligárquica ou aristocrática não creio que seja um caso de escolha, mas de herança histórica, incluindo revoluções políticas.

Saindo do campo da teoria para o mundo real, o Brasil está muito longe de ser uma democracia (ou aristocracia), como sempre esteve. Um povo ignorante não consegue mandar em um país, nem em uma cidade, nem na própria casa, nem no próprio nariz. Um povo miserável se vende. Se o povo é tão ignorante, as elites não podem ser muito melhores. Uma elite que secularmente corrompe seu próprio povo só pode ser ela também corrompida. O desenho político do Brasil, copiado dos EUA, não permite nem mesmo que um povo culto mande no próprio país, a não ser que se torne adivinho. Escolher pessoas para que essas pessoas decidam as coisas, é só aparência de poder, é só aparência de que se decide as coisas. Nem mesmo a pessoa escolhida sabe o que fará durante o mandato! O país, não só a União, mas até os municípios, tem sido governado por gente incompetente para tudo que não seja roubar e ou fazer carreira (entre nossos parasitas existem dois extremos, os que são capazes de sacrificar a carreira por dinheiro, e os que são capazes de sacrificar o dinheiro pela carreira).

Recapitulando. Do ponto de vista da essência todo Estado já é uma ditadura, e nenhum presidente pode fazer nada a respeito. Do ponto de vista formal, dificilmente Bolsonaro poderá ou desejará enterrar a democracia. Ele, como todos, vai preferir governar em nome da democracia, é lógico! Diga-se de passagem, mesmo durante a ditadura de 1964-1985 os militares mantiveram formalidades democráticas, se afirmaram como salvadores da democracia, mantiveram as eleições acontecendo. O que ele pode fazer? Tirar o direito de voto? Duvido! Quero ver se vai insistir em tornar as urnas mais seguras, conforme um dos dois únicos projetos que aprovou, e nesse caso terá fortalecido essa dita democracia. Pode conter a liberdade de opinião e expressão? Claro que não! Quem tem esse poder hoje em dia são os dirigentes das grandes empresas da Internet, não os presidentes das colônias.

O pior que ele poderia fazer seria reprimir os militantes políticos. De fato o regime de 1988 já matou milhares de sindicalistas, ambientalistas, índios, sem terra, jornalistas etc., concorrendo com a ditadura de 1964. Com o agravamento da crise, essa repressão cresceu, e sempre é assim. É provável, sim, que a repressão cresça. Contudo, Dilma já estava fazendo isso, e creio que o PT fará o mesmo se ganhar. Na medida em que um regime político está caindo, ele se torna mais violento.


8 – Nem toda direita é fascismo

Depois do golpe, os petistas (não interessa se realmente são eleitores ou filiados ao PT, mas o nível de ignorância) começaram a afirmar que se iniciou uma ditadura. Se eles estivessem tratando do conceito anarquista ou marxista de ditadura, estariam certos. Mas muito pelo contrário, para eles seria uma ditadura igual a de 1964, ou seja, um regime repressor, e antes, até 2016, teríamos vivido uma democracia. É muito desserviço! Confundir o povo, confundindo os conceitos é mania da direita, mas o petismo é só uma gradação da direita. Chamar o regime de 1988 de democracia é uma das coisas mais antidemocráticas que se pode fazer! Para o povo, se isso for democracia, democracia é ruim. Ademais, dizer que o governo golpista de Temer é uma ditadura do ponto de vista formal é distorcer o conceito de ditadura formal, novamente enfraquecendo a democracia (formal, que é a única que existe).

Agora, como tática eleitoral, os petistas estão banalizando o conceito de fascismo. Não é que Bolsonaro e seus eleitores não tenham nada de fascistas, nem que os grupos fascistas não estejam com ele. Têm e estão!

O que existe de comum entre essa nova direita brasileira e o fascismo é o anticomunismo como eixo, em torno do qual se unem as coisas mais díspares, o obscurantismo, o machismo, o racismo e o irracionalismo (alguns setores somente).

De diferente, não é disciplinada como eram os fascistas; não se caracteriza por ter grupos paramilitares; não é nacionalista de fato; não tem base industrial para sustentar um regime fascista de sucesso; não tem política trabalhista; não finge que é socialista; não idolatra a história nacional.

De incerto, o culto à personalidade. Uma minoria já o faz, mas esse culto só chegará ao nível fascista, mesmo perto de Getúlio Vargas, se tiver sucesso no plano econômico. Ademais, o candidato escolhido com líder dessa direita é muito ruim para ser cultuado; O militarismo, que não se sabe se ficará nas folhas salariais ou se será de verdade, e para existir de verdade será necessário que tenha uma base econômica; O autoritarismo, que existe nos candidatos e em muitos de seus eleitores, mas daí a se implantar para a sociedade vai um abismo.

Pode se tornar fascista? Sim, “a cadela do fascismo está sempre no cio”. Mas a forma de evitar isso não é banalizar o termo “fascismo” com finalidades eleitorais.


9 – Quando o fracasso é fracasso e o sucesso também é fracasso

Se um governo ganha ou perde popularidade depende dos resultados da política econômica. Se Bolsonaro aplicar a política liberalóide que tem dito que adotou, a economia do Brasil continuará em derrocada. Os liberais terão aplicado a sua política econômica, e isso será um grande fracasso, como sempre. É um caso de duplo fracasso.

Para ganhar popularidade Bolsonaro terá que aplicar uma política econômica contrária aos interesses dos banqueiros, desenvolvimentista, oposta à que tem defendido em sua candidatura. A rigor, terá que fazer o que Ciro Gomes propôs. Mas se fizer isso pode ser um sucesso para ele, mas para a direita realmente ligada aos interesses do capital terá sido uma grande derrota.


10 – As perdas dos trabalhadores

Quem realmente pode sofrer, como sempre, é o povo pobre! Muito eleitor de Bolsonaro que diz que está votando contra a corrupção, o comunismo, o ateísmo etc. só está com vergonha de confessar que está votando porque quer salários menores e o fim do décimo terceiro. Do ponto de vista do capitalismo global, o que se deseja é arrancar mais trabalho dos brasileiros, e para isso é necessário torná-los mais miseráveis. Mas observemos o caso em detalhes.

O que realmente mais melhora a vida do povo trabalhador é o desenvolvimento das forças produtivas, ou dito de outra forma, da tecnologia aplicada ao trabalho, e mais precisamente, da produtividade. Da Revolução Industrial para cá a produtividade passou a crescer muito mais rápido, e as pessoas pobres têm cada vez mais roupas, comida, educação, saúde etc. Se formos calcular em valores nominais, dinheiro, parece que os salários cresceram ainda muito mais! Contudo se calcularmos em tempo de trabalho gasto para produzir o que os trabalhadores consomem, ou seja, em valores reais, descobre-se que os salários caíram!!!  Acontece que por qualquer dessas medidas que se use, valores reais, valores nominais ou produtos, os salários são o custo médio de vida daquela categoria de trabalhadores. Nesse aspecto o que um governo pode fazer é acelerar ou retardar o desenvolvimento tecnológico, industrial etc. de forma que voltamos ao item 9.

Outra coisa que melhora muito a vida do povo é a redução da jornada de trabalho. A reforma trabalhista que Bolsonaro deve manter e que o PT não teria forças para desfazer, contudo, aumenta a jornada. Aumentar a jornada de trabalho aumenta o desemprego, e reduzi-la aumenta os empregos. Mais gente trabalhando é mais gente comprando, o que aquece a economia e gera ainda mais empregos.

Os trabalhadores têm tido perdas constantes desde os governos petistas, devem continuar tendo perdas, com o PT ou com Bolsonaro, simplesmente porque estão fracos – desorganizados e despolitizados, por obra petista.


11 – Se os temores exagerados estiverem certos, se ao invés de ser mais um governo fracassado o governo de Bolsonaro se tornar uma ditadura, a única coisa a fazer é proteger os militantes. Ensinamento de Lênin! Em períodos de repressão, salvaguardar os militantes para que a organização sofra o menos possível. É como uma tempestade, ou um bombardeio. Coragem, determinação, etc. não adiantam nada contra um bombardeio se não existir um abrigo. Mas os mesmos que falam tanto de ditadura e fascismo com finalidade eleitorais e de recrutamento, não movem uma palha para se prepararem para o caso real de uma ditadura.

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