Por que o PT não consegue mobilizar os eleitores de Lula em defesa de Lula?

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Não são falsas as pesquisas que mostram o apoio de dezenas de milhões de brasileiros a Lula nas eleições que se aproximam. Ele ganharia no primeiro turno! Horas antes dele ser preso, apesar de todas as suas tentativas desesperadas, o Pt não consegue mobilizar nem uma fração mínima desse eleitorado! Suponhamos que Lula tenha 40 milhões de votos para o primeiro turno. Existem nesse momento sequer 40 mil pessoas nas ruas em defesa de Lula?

Já aconteceu na história do Brasil um caso semelhante, embora de proporções muito maiores e mais sérias. Em 1954, Getúlio Vargas sofreu um golpe de estado. O Palácio do Catete estava cercado por tropas da Aeronáutica, os ministros o abandonaram, o golpe estava consumado, e as ruas estavam vazias. Quando Getúlio, surpreendendo os golpistas, morreu, enormes massas de povo tomaram as ruas de todo o país em manifestações violentas.

A diferença é só de proporções. Getúlio Vargas foi o melhor presidente que o Brasil teve, sofreu um golpe militar sério que o levou à morte , e a reação popular foi violenta. Lula é o menos ruim somente dos últimos 30 anos, está ameaçado de prisão e não de morte, e dificilmente a reação dos lulistas será tão grande quanto a dos getulistas. Porém, os motivos pelos quais Getúlio e Lula não conseguiram apoio popular antes de serem respectivamente, levado à morte e à prisão, são os mesmos.

Sun Tzu disse “dirigir muitos é o mesmo que dirigir poucos. Trata-se de uma questão de organização”. Chang Yu comentou sobre essa organização que é a divisão do exército em grupos, regimentos, batalhões, companhias, pelotões, seções e esquadrões, “cada um deles subordina-se ao superior e controla o inferior. (...) Assim pode-se controlar uma hoste de um milhão de homens como se fossem uns poucos”.

Getúlio e Lula contaram com milhões de recrutas destreinados, mas não tiveram oficiais intermediários. Mais uma vez as proporções são diferentes. Getúlio desde os anos 1930 atacou os Sindicatos, até que depois de 1937 os atacou com a polícia, depois os controlou com seus “pelegos” e o Ministério do Trabalho, que desmobilizaram as bases, interromperam o trabalho de politização. Quando ele mesmo precisou, os trabalhadores estavam desorganizados e despolitizados. O Pt só se adaptou à estrutura sindical pelega, não a modificou em nada, tomou o lugar dos pelegos no controle dos Sindicatos e continuou a política de não mobilizar e de despolitizar. Como se viu há poucas semanas, os Sindicatos não conseguiram se mobilizar sequer contra os cortes de direitos trabalhistas e o fim do imposto sindical. Aliás, as Centrais Sindicais se venderam ao governo Temer em troca primeiro da promessa da criação de um novo imposto sindical, e depois somente da liberação de valores retidos desse imposto.

Não é somente Lula que é uma “sombra de mangueira” sob a qual nada cresce. O Pt tem por política perseguir até a eliminação qualquer liderança que surja em suas proximidades e não se submeta a quem for o chefe petista local. Para os Sindicatos a política de algumas tendências do Pt é o Sindicato Nacional, que extingue os Sindicatos de base, tradicionais espaços de formação de novos militantes. A história do Pt foi a história do “aparelhamento” de milhares de Sindicatos e entidades estudantis, reduzidas a comitês eleitorais petistas. Mesmo internamente o Pt não é propício ao surgimento de novos líderes. Como um partido de direita, está controlado pelos deputados e seus exércitos de assessores puxa-sacos. Os militantes com ideias próprias, únicos que podem ser líderes eficientes, incomodam os caciques.

Quem se der ao trabalho de analisar a composição das manifestações petistas desses últimos dias notará que elas mobilizam exatamente os setores onde o Pt e seus aliados ainda têm alguma atuação social, ou seja, onde existem lideres intermediários, militantes de verdade, onde a “sombra de mangueira” não matou o movimento.

Deve-se acrescentar que as lideranças locais, de base, intermediárias entre as bases e os líderes nacionais, são exatamente as que mais se decepcionaram com o governo petista. São pessoas politizadas, que acompanharam o governo, que sofreram cada uma de suas traições, e que muitas vezes se indispuseram com os militantes petistas. Durante seu governo, o Pt se aliou aos ladrões da direita e transformou muitos antigos aliados em inimigos.

Se o Pt tivesse colocado nas ruas 1 centésimo do eleitorado de Lula, a prisão não seria necessária. O objetivo da prisão de Lula só pode ser levar às ruas as massas que o Pt não conseguiu mobilizar. Os golpistas confessaram que deram o golpe em busca de uma grande pizza, que eles chamam de “acordo nacional”. Tanto políticos quanto juízes, desembargadores e ministros dos tribunais superiores estão sedentos por soltar Cunha, Cabral, Gedel etc. Precisam de alguém de prestígio entre os presos, como um indicado ao Prêmio Nobel da Paz. Precisam de povo nas ruas, e preferencialmente de alguma violência que justifique a “anistia”, a “conciliação nacional”. Como o Pt não conseguiu colocar gente nas ruas até agora, saiu a prisão de Lula. Se o povo não for para as ruas, inventarão outra coisa pior para o instigar. A “justiça” brasileira está sendo parcial, politiqueira, uma vergonha para todos os brasileiros, mas a história está sendo justa! Lula está pagando pelo seu maior crime, que foi a desorganização e despolitização dos trabalhadores.

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