POR QUE EXISTEM TANTOS MORADORES DE RUA EM SÃO JOÃO DEL REI? ALGUMAS PISTAS PARA O PROBLEMA


            André Luan Nunes Macedo- Professor de História
Doutorando em História pela Universidade Federal de Ouro Preto

Quando pensamos na Questão Nacional não podemos abandonar as reflexões sobre nossa aldeia. É a partir dela que vemos se acompanhamos negativamente ou positivamente os avanços da formação nacional como um todo. E é assim também que elaboramos análises de conjuntura locais, importantíssimas para a luta pelo desenvolvimento nas regiões de atuação.

No entanto, a questão nacional e um projeto nacional de desenvolvimento não se faz com bravatas. Nem somente com pavimentação asfáltica. E, muito menos, com demagogia e clientelismo. Investigar para agir é fundamental. Portanto, não fazemos isso sem que haja uma correlação entre investigações sensoriais e do uso das ferramentas estatísticas.

No que diz respeito a questão subjetiva, ela foi que me levou a escrever este texto. Quando caminho pelas ruas de São João del-Rei com o objetivo de encontrar um bom boteco para tomar uma cerveja, vejo o contingente gigantesco de moradores de rua em constante fluxo, tanto na região central do São Francisco como também nas imediações da Rodoviária Nova. Em um dos bares do São Francisco foi colocada uma placa pelo proprietário recomendando uma atitude moral quanto aos pedintes, para que não lhes dessem dinheiro. E que, em alguma medida, o ato de dar esmolas só contribuiria para a reprodução desse ciclo vicioso.  A vulnerabilidade social tornou-se um problema ético na visão de muitos donos de botecos.

Do ponto de vista objetivo sabe-se que tal afirmação é equivocada. E, nesse sentido, é preciso entender por que existem tantos moradores de rua em São João del-Rei e o que isso quer dizer do ponto de vista estrutural da cidade.  Daí que, ao investigar objetivamente a partir de dados que fornecem uma análise estrutural da cidade, deparo-me com números assustadores: segundo dados de 2010, 1 em cada 3 jovens da cidade entre 15 e 24 anos estão em situação de vulnerabilidade ou em situação de extrema pobreza. Ou seja, já em 2010, a possibilidade de um terço da juventude tomar o destino das ruas já era algo concreto.

 Muito se fala que o que falta no país é uma dimensão cultural mais ampla, situando a educação como elemento primordial para a superação do nosso subdesenvolvimento. Muito também se fala em educação em tempo integral como forma de atacar a pobreza.  No entanto, ao que parece e corrijam-me se estiver enganado, o problema da vulnerabilidade e da pobreza não se resolve com a criação de mais escolas e o fortalecimento do ensino básico de maneira geral. Analisar o problema superestrutural na gestão da cidade é parte de uma reprodução da ingenuidade, presente em uma faixa considerável da classe dirigente – passando pelos intelectuais da UFSJ e os políticos locais. Ora, se existe, segundo o Atlas de Desenvolvimento Humano no Brasil, a possibilidade de pobreza entre os jovens, quer dizer que os pais responsáveis possuem grandes chances de ficarem desempregados, oscilam em seus empregos, fazem dupla jornada e vivem com seguro-desemprego. Existe, portanto, uma necessidade de geração de empregos.   

Apesar disso, em São João del-Rei os últimos prefeitos parecem ter vivido no mundo do idealismo. Pouco ou nada se fez junto ao governo federal para a implantação de empregos no ramo da indústria da transformação. Ainda optamos por manter investimentos na área do comércio e do setor de serviços – o último, absurdamente, atingindo 49,02% do total de trabalhadores, enquanto que, no setor industrial, ocupamos 11,02%. Para aumentar a renda das populações mais pobres e gerar maiores capacidades de enfrentamento junto às desigualdades, é mais que necessário retomar a utopia do desenvolvimento industrial em São João del-Rei.

O bom e velho desenvolvimento das forças produtivas deve ser o caminho para acabar com a extrema pobreza na cidade. A fórmula leninista da eletricidade + soviets como forma de construção do socialismo poderia ser traduzida, em termos locais, a partir da equação indústria + escola de tempo integral como formas de combate à pobreza e à vulnerabilidade social.  Passou da hora de São João del-Rei se consolidar como a Capital das Vertentes e atrair altos índices de investimento para o município.

REFERÊNCIAS
http://www.vanufsj.jor.br/em-meio-a-onda-de-desemprego-a-regiao-de-sjdr-se-mantem-estavel-no-primeiro-semestre/

                          

Comentários

Concordo que São João del Rei é uma cidade pobre, parte da "região do salário mínimo". Atualmente tem uns 17 mil empregos formais para 90 mil habitantes!!! Chegou no máximo a uns 20 mil empregos, na época em que os hipócritas diziam que tínhamos pleno emprego. Mas me parece que essa pobreza verdadeira não é a que está nas ruas, mas escondida em casa, nos bairros de periferia. A população de rua que tenho visto é craqueira, ou seja, está nas ruas por problemas pessoais, não econômicos! Muitos têm família, têm casa, tinham emprego. Ou seja, o problema é novo e diferente.
Sobre como gerar progresso econômico, em uma cidade isolada das principais estradas, e na época das grandes corporações internacionais, só o Estado! O município mesmo tem condições de criar empresas e gerar empregos, e deveria fazer isso. Por exemplo, nos falta uma empresa de coleta e reciclagem de lixo. Sou contra parcerias com a iniciativa privada para fazer coisas que hoje são feitas só pelo Estado, mas sou a favor dessas parcerias para entrar em setores que hoje são somente da iniciativa privada. Em todo setor em que São João não produz algo de que precisa, se for possível, a municipalidade deveria intervir, sozinha ou em parceria, e criar empresas, em uma espécie de substituição de importações a nível municipal. O incentivo ao turismo é também inexistente, desperdiçando-se o centro histórico com um intenso e destrutivo trânsito de carros. As comunicações com as dezenas de cidades e arraiais vizinhos, se melhorassem, também fortaleceriam o comércio local. Acontece que as elites políticas, econômicas e mesmo culturais da cidade são liberaloides em economia, para não dizer que são atrasadas em tudo. Tome-se como exemplo que vivem uma vida inteira sentido o cheiro de fezes que emana dos esgotos da cidade e não fazem nada.