
Em vinte anos se prevê que robôs tomarão metade dos atuais
postos de trabalho! Categorias inteiras, que fazem os trabalhos mais simples,
desaparecerão, substituídas por máquinas, computadores, em uma palavra, robôs. A
solução lógica para que a robotização não gere catástrofes sociais e crises
econômicas por exagero de desemprego é a redução da jornada de trabalho. Também
será necessário aposentar as pessoas mais cedo, e garantir que elas não
retornem ao mercado de trabalho, o que só se pode fazer aumentando o valor as
aposentadorias.
Trata-se, portanto, de uma realidade bem oposta à narrada
pelos governantes e pela mídia. Sobre redução de jornada de trabalho
simplesmente não se fala, e a contra reforma trabalhista de 2017 pretendia
criar mecanismos que ampliassem a jornada para além das 44 horas atuais. Na
Alemanha a jornada é de 35 horas semanais, e os alemães já lutam para reduzi-la
abaixo disso, e realmente precisarão disso, se quiserem sobreviver como
potência econômica.
Portanto, reduzindo a jornada aumenta-se os empregos,
aumentando os empregos aumenta-se o consumo, e daí aumenta a produção.
Simplesmente mais gente será necessária para produzir uma quantidade
proporcionalmente maior de mercadorias. A única coisa que cai é a taxa de lucro
(não o montante)! É pela taxa de lucros que a imprensa imperialista (grandes
TVs, grandes jornais diários, notícias dos fornecedores de e-mail) não toca no
assunto.
Segundo a narrativa do governo é necessário dificultar as
aposentadorias porque em caso contrário a Previdência quebraria! A quantidade
de mentiras contidas nessa afirmação é impressionante! Comecemos pelas questões
legais e depois tratemos de economia.
1 – A Previdência não existe em separado do caixa da União
desde FHC. Antes de FHC grandes somas da Previdência foram usadas para uma
série de obras, como Itaipú e a Ponte Rio Niterói. Ou seja, se fizermos as
contas a sério, a Previdência é credora de quase tudo o que União tem! A União,
sim, teria que decretar falência ou moratória se fosse obrigada a devolver
tudo. Diga-se de passagem, os militares não fizeram errado em usar esse
dinheiro, mas o fizeram em não contabilizar como empréstimo da União com a Previdência.
2 – O governo mente sobre as rendas da Previdência, pois, a
despeito do que diz a lei, argumenta como se somente as contribuições
previdenciárias compusessem essa renda. Mas não é assim! Vários impostos são
destinados à Previdência, e os governantes querem desviá-los para a corrupção
legal e ilegal. Metade do orçamento da União em 2017 foi para os banqueiros e
agiotas, sócios dos governantes, que querem abocanhar mais!
Observemos agora pelo ponto de vista econômico. Até um
candidato sério e capaz como Ciro Gomes levantou o argumento demográfico para
dizer que precisaremos, embora não desta, de uma reforma da previdência.
Trata-se do mesmo erro de Malthus no século XIX. Dizia Malthus que a fome era
natural, porque a população cresceria mais que a produção de alimentos. Estava
redondamente errado!
A questão é exatamente a mesma. A população estaria vivendo
mais e isso tornaria insustentável tantos aposentados. Ainda citam a relação
entre empregados e aposentados, dizendo que há algumas décadas eram 10
empregados por 1 aposentado, e hoje são somente 3 por aposentado.
Neomalthusianismo completo!
Na verdade, um trabalhador de hoje produz dez vezes mais que
um trabalhador de décadas atrás, o que é o mesmo que dizer que, para a
sociedade, sustentar uma pessoa tornou-se 10 vezes mais barato!
A única reforma da previdência que precisamos é abolir os
supersalários e as aposentadorias acumuladas, ou seja, é por motivos morais,
não econômicos!
A relação entre número de empregados e número de aposentados
só tem importância se mantemos a ficção de uma Previdência independente, que se
sustenta com as contribuições dos empregados. Porém, essa ficção prejudica a
economia, pois taxa a criação de empregos! Resolve-se isso com uma canetada –
abole-se completamente as contribuições previdenciárias e cria-se outro
imposto, sobre os ricos, para as substituir.
Para a economia aposentar tem a mesma função de reduzir a
jornada, que é empregar mais pessoas. O aposentado, se não voltar ao mercado de
trabalho, abre uma vaga e continua consumindo! Em uma cidade como São João Del
Rei, com mais de 22 mil aposentados, é nítido o quanto os aposentados são bons
para a economia e quanto se perderia com a reforma da (im)previdência.
Entre as mentiras ditas pelo presidente da República (que
vergonha) está uma especialmente asquerosa – disse o golpista que se o Brasil
não fizer a reforma da (im)previdência ficará igual à Grécia!!! Se ele acredita
nisso, é realmente burro, e se sabe o quanto isso é mentira, é de uma
desonestidade doentia. Primeiro, fique claro que a Grécia mesmo em crise tem
condições sociais muito melhores que o Brasil. Segundo, a Grécia não emite mais
moeda! A Grécia perdeu essa parte de sua soberania, de sua independência, que
passou para a Alemanha. A situação da Grécia pode ser comparada, sim, à do Rio
de Janeiro, que também não pode emitir moeda, e precisa arrecadar para cobrir
seus gastos. É que na cabeça colonial de nossos governantes moeda seria uma
coisa santa, intocável, e não um instrumento de política econômica. Trata-se de
um presidente da República que na prática abriu mão, ou quer abrir, do poder de
emitir moeda. Contudo, mesmo que o Brasil não pudesse emitir moeda a
Previdência não está deficitária e o presidente continuaria mentindo.
Para arrematar, vamos repetir que metade do orçamento da
União em 2018 foi destinado aos agiotas internacionais, e acrescentar que o
Brasil não tem impostos sobre grandes fortunas, nem sobre grandes propriedade
rurais, nem sobre especulação na bolsa de valores, nem sobre igrejas. Em
resumo, o que sobra por aqui é dinheiro, e uma classe dominante mesquinha,
incapaz, imprevidente, anti-nacional.
O socialismo e os assuntos chatos
A luta em torno de temas fiscais, orçamentários, da jornada
de trabalho e direitos previdenciários é grande parte da luta pelo socialismo, que
os vários setores da esquerda brasileira negligenciam completamente.
Para Marx, é o capitalismo, mais precisamente a revolução
industrial, que socializa a produção! Só resta à revolução socialista
socializar seus frutos!!! Claro que os frutos da produção não são separáveis da
produção em si, e que as coisas não são fáceis como propôs Stuart Mill, que
achava possível manter o capitalismo na produção e fazer justiça social só na
esfera da circulação. Ora, quando se produz ou um iate, ou uma ambulância, já
se definiu a distribuição!
Mas a questão permanece – o que é socializar os frutos da
produção socializada? Não adiantaria nada tentar distribuir a mais-valia (o que
o trabalhador produz mas não ganha como salário) aos próprios trabalhadores em
forma de dinheiro, pois este simplesmente se desvalorizaria para se adequar aos
produtos de consumo popular existentes no mercado. Aumentar a produção desses
produtos, sim, aumenta o consumo dos trabalhadores, mesmo que não aumente o
salário nominal, como a Revolução Industrial tem feito.
Nota-se também que não se pode resolver a maior parte das
questões humanas na base do consumo. Por exemplo, saúde, é uma questão pública,
uma epidemia atingiria ricos e pobres, a poluição atinge ricos e pobres, o
stress atinge ricos e pobres. Aumentar o consumo dos trabalhadores, por melhor
que seja, não resolveria todos os problemas do sistema de saúde. Também não
resolveria da educação, do trânsito, de quase nada! Os trabalhadores precisam
de melhores salários, mas precisam de muito mais que isso. As verdadeiras
formas como a sociedade pode ser apossar dos produtos da indústria, embora
pareça uma redundância, são sociais.
Para Marx a principal conquista que os trabalhadores podiam
obter era a redução da jornada de trabalho, e o objetivo final é a abolição
quase completa do trabalho (o comunismo de Marx), substituído pelas máquinas. O
que qualquer pessoa tem de mais valioso é seu tempo, que não pode ser comprado
de volta por dinheiro nenhum do mundo! A redução da jornada, que agora se torna
uma necessidade econômica, é também um dos principais objetivos marxistas.
Mas na época de Marx não existiam sistemas públicos de
saúde, só começavam a existir os de educação, nem se tinha o conceito atual de
esporte, e ele próprio foi um dos primeiros a se preocupar com a natureza. Também
não existiam previdências realmente públicas e muito menos universais, mas só
as primeiras tentativas de previdência sustentada pelos sócios.
Em nossos dias podemos concluir que a sociedade pode se
apossar das riquezas também de outras formas além de aumentar o consumo e o
tempo livre: aposentando seus membros; fornecendo-lhes saúde, educação, artes,
lazer etc.; preservando a natureza; criando espaços públicos; investindo em
ciência.
Já que começamos falando de robôs, temos que tratar de um
problema novo. Marx não achava que o capitalismo chegaria tão perto do lucro
zero (para ele cairia antes) de forma que não pensou a respeito. O lucro zero,
ou próximo de zero, exigirá que vários setores onde o lucro chegar a esse nível
sejam assumidos como serviços públicos ou parcerias público-privadas. Em artigo no Estudos Vermelhos já tratei dos robôs e da tendência constante à queda dataxa de lucros, de forma que aqui só preciso lembrar que a taxa de lucro média
cai constantemente e para os mais apressados tende a zero dentro de uns 20 ou
30 anos, o que seria um curto-circuito no capitalismo. Exemplifiquemos: Se a
produção de X caiu ao lucro zero, provavelmente devido aos robôs, nem por isso
a sociedade deixa de precisar de X. Mas o capital não procurará mais esse
setor, porque procura os maiores lucros. Para que não parasse a produção de X,
a não ser que X tivesse se tornado tão espalhado quando o ar, a sociedade teria
que assumir seu controle. Claro que se trata somente de um exercício
intelectual, pois calcula-se que antes de atingir o lucro zero o capitalismo já
teria entrado em colapso.
Para entender melhor o caso do lucro próximo a zero, note-se
que alguns setores da economia têm o retorno tão demorado, ou seja, taxas de
lucro anuais tão baixas, que o capital não flui para eles, o que, aliás, é o
motivo pelo qual tem sucesso a chamada Via Prussiana de Desenvolvimento – os
setores pesados da economia, a indústria de base, se forem abandonados à sorte
do mercado crescem muito lentamente, porque somente quando sobra muito capital
sem destino certo é que este flui para esses setores. Portanto, o Estado
prussiano tomou a seu cargo impulsionar esses setores, o que é não só a base da
riqueza alemã, como foi o modelo seguido por Japão, União Soviética, China etc.,
e mesmo a pouca indústria brasileira é fruto da Via Prussiana, que foi o modelo
seguido por Getúlio Vargas.
Em outras palavras, outra forma como a sociedade pode se
apossar das riquezas que produz, é ampliando os setores da economia que são
serviços públicos, e não mercado. É o exemplo acima dito de outra forma. A
produção de X, no caso, ao ser assumida pela sociedade, faria do fornecimento
de X um serviço público. Então, obviamente, existem setores em que se pode e
deve fazer isso sem chegarmos ao lucro zero. É o caso dos setores monopolizados
da economia, que muito ao contrário de lucro zero, têm as maiores taxas de
lucro possíveis. Mas ai já estamos falando de outra fase da Revolução
Socialista, quando o proletariado já tiver o poder, o que não cabe nesse
artigo.
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