O POVO NÃO LIGA PARA O ESTADO DE DIREITO, OU VOCÊ NÃO LIGA PARA O POVO?



Segundo pesquisa de opinião do Data Folha[1], o apoio ao impeachment de Dilma Rousseff atingiu expressivos 68%, e os que que consideram o governo ruim ou péssimo atingiu a marca de 69%. Os mesmos 68% entendem que o motivo da nomeação de Lula para o ministério foi o de obter foro privilegiado contra as investigações da Operação Lava Jato. Fato que talvez explique porque o ex-presidente teria hoje uma rejeição de 57% [2]. Ainda mais importante é a opinião sobre a “condução coercitiva” do ex-presidente pelo juiz Sérgio Moro, com expressiva aceitação de 83% dos entrevistados, contra apenas 13% de contrários.


A ida de Lula para a Casa Civil, vista como estratégia de fuga.


Pode-se questionar qualquer pesquisa de opinião, mas pede-se o pudor de não fazê-lo apenas quando não agradam. Mas parece mais útil considerá-las, não de forma absoluta, do que apenas medir “à régua” metros e circunferências de manifestações. Fala-se de um país dividido, é bem duvidoso. O que há é uma divisão de setores da população que se animam de vir a público, nas ruas e mesmo, em redes sociais. Há, na massa da população, um desânimo de fazê-lo, pelo estrutural descrédito com a vida política institucional e, mesmo, com os termos binários e mal-educados dos embates em voga.

Não se pense, no entanto, que esta população não tem seus laivos de opinião[3]. O descarte desta percepção popular, ainda que com bravatas de “confiar no povo brasileiro” ou de “o gigante acordou”, tem e terá gravíssimas consequências. Em especial para os que se propõem ao resgate do interesse pela vida política. Os sinais são claros, pelo menos para os que não vivem em “bolhas” de pensamento único, estigmatizando e constrangendo, às vezes pelo uso de difusas relações de poder, quaisquer vestígios de questionamento ou discordância da epifania lulista. Esses personagens são vistos a olho nu, em círculos sociais vários.

O povo não crê nas potocas de Lula – alguém, de fato, crê? –, nem no governo Dilma Rousseff. Ou nas invenções da dupla, como na intenção respeitável de sua nomeação para a Casa Civil. Crê na operação Lava-Jato, como evidencia o apoio de 83% à ação mais dura da “condução coercitiva”[4]. Como perceberá a divulgação dos grampos por Sérgio Moro, imerso em sutis e divididas interpretações legais[5]? E mais, como perceberá a ação do novo ministro da Justiça que pretende uma razia contra a Lava-Jato[6]? Dará mesmo crédito à ideia de que há uma ameaça à democracia e ao Estado de direito? A ser combatida minando tais investigações?

Um dado menos bombástico da supracitada pesquisa é o de que apenas 37% dos entrevistados considera que a corrupção é principal problema do país. O que isso nos diz? Além da seletiva descrença em pesquisas de opinião, uma explicação lulo-governista é a de que a população é manipulada pela mídia e, assim, enredada pela ideia de que o problema do país é a corrupção. Quando o problema seria o da desigualdade... Não ver exatamente a corrupção como o maior problema do país nos põe, ao menos, uma dúvida. Será realmente tão ingênua a percepção popular? Até onde se percebe as relações entre os dois fenômenos, para não alongarmo-nos em outros?

O povo não compreende a Lava-Jato como um atentado à democracia e ao estado de direito, por não reconhecer a inocência dos “perseguidos”. E os alardeados avanços contra a desigualdade, mais ou menos significativos, para cada cidadão ou grupo, não justificam ou valem a pena dos “malfeitos”, no dialeto rousseffiano. E, se descrente na classe política em geral, este povo não está disposto a analisar “linhas sucessórias” e sopesar “males menores”. Quer alguma verdade e a exposição das entranhas do jogo político que abomina, talvez como um ponto de partida. Vamos ignorá-lo, ou buscá-lo com uma pedagogia política coerente?




[1] http://g1.globo.com/politica/noticia/2016/03/68-apoiam-impeachment-de-dilma-diz-pesquisa-datafolha.html
[2] É um sofisma tirar daí que Lula teria 43% de eleitores potenciais, as taxas de rejeição apontam para aqueles nos quais os entrevistados não votariam em nenhuma hipótese...
[3] E é conveniente poupar-nos das classificações de “classes médias”, “burguesia” ou da deprimente “coxinha”, em índices que variam de 68 a 83 % da população...
[4] Ainda não estavam em pauta os grampos e sua divulgação.
[5] Os “é evidente” dos defensores de Lula e do governo, pior ainda nos gritos histéricos da “presidenta”, não se sustentam, como, aliás, já apontou o próprio Procurador Geral da República Rodrigo Janot. Em parte, as chicanas jurídicas já foram rejeitadas no caso da “condução coercitiva”.
[6] http://www1.folha.uol.com.br/poder/2016/03/1751763-ministro-da-justica-diz-que-trocara-equipe-da-pf-em-caso-de-vazamento.shtml

Comentários

Só discordo em 2 pontos:
1 - O país está dividido, sim. É visível a olho nu. Isso hoje, meados de Março de 2016, porque nesses tempos as coisas mudam rápido. As pesquisas feitas por órgãos de imprensa que estão tentando (desesperadamente) derrubar o governo não me convencem a fingir que não estou vendo o mundo... Ademais, a Folha entrou em um nível de desmoralização inaudito. Ela se juntou a Alckmin para soltar um notícia falsa e tentar enganar os estudantes que ocupavam as escolas. Em resumo, virou um panfleto desprezível, papel higiênico dos estudantes. Se quiser voltar a ter respeito terá que mudar de nome!
2 - A sexta República entrou em sua fase de decadência. O fracasso petista foi indispensável para o fracasso da Constituição de 1988, mas nem a defesa, nem a derrubada do Pt vão acabar com essa crise, que só se resolverá quando tivermos outra Constituição, e consolidada!
Tentar defender esse entulho é ainda mais inútil e impossível que defender o Pt... Ademais, chamar isso de democracia é o fim! É, aliás, um dos pontos em que discordo completamente dos petistas. Eles gostam é disso, ou seja, do reino dos ladrões, a 'democracia ocidental'... Gosto suspeito!