O PROTO-RACISMO EM AÇÃO

Wlamir Silva
Professor
Historiador


Há dias um caso classificado de racismo ocupou a grande mídia nacional. Jovens atletas da seleção de ginástica brasileira fizeram uma infantil brincadeira com um de seus colegas de equipe: “- Seu celular quebrou: a tela quando funciona é branca... quando ele estraga é de que cor? (risos) ... O saquinho do supermercado é branco ... e o do lixo? É preto!" - dizem os demais atletas, em coro”[1].

A brincadeira foi filmada e postada numa rede social, causando uma reação e, ao que parece, a expulsão do atleta por ela responsável da referida rede. Os envolvidos se desculparam publicamente[2], mas aí setores raivosos do movimento negro já haviam descoberto um rico filão para fazer mídia e, quem sabe, obter ganhos para a sua incessante busca de espaços para políticas racialistas no aparelho de Estado.

As desculpas foram então consideradas muito pouco diante da então pintada como gravíssima injúria racial. Mesmo a participação do atleta ofendido foi então lida como um constrangimento com medo de ser isolado de um meio no qual seria um estranho. A sua atitude dúbia se prestou a tal interpretação, ao não fazer uma denúncia formal e deixar a critério da Confederação qualquer decisão.

Diante da recusa do ofendido de uma acusação maior, os abutres do racialismo se mobilizaram. A Educafro, do sr. Frei David deseja exigir dos três ginastas o pagamento de 50 bolsas de estudos para negros, pois no imaginário do Frei todos os brancos são ricaços e devem isso a todos os negros. O sr. Frei David apresentou queixa-crime contra os três jovens atletas junto à Polícia Federal e representações ao Ministério Público Federal e às comissões de Direitos Humanos da Câmara e do Senado. O sr. Humberto Adami, presidente da Comissão Nacional de Escravidão Negra do Conselho Federal da OAB[3], pressiona para que a CAIXA, patrocinadora da Confederação Brasileira de Ginástica se posicione.

Se o ofendido não pretende levar “a ferro e fogo” tamanha injúria, o sr. Frei David toma a si uma procuração do “povo negro” – “Não se brinca com a autoestima do povo negro” – e quer fazer do caso um exemplo e, claro, navegar na onda aberta na mídia. Mais insidioso, o sr. Humberto Adami, conhecido pela mobilização em torno da cruzada contra Monteiro Lobato, “apertou o botão certo”, ao tocar no patrocínio... Diante de tal plano não poderiam mesmo bastar desculpas públicas.

Pressionada, a Confederação Brasileira de Ginástica tomou uma decisão. Afastou preventivamente os jovens atletas de competições e suspendeu por trinta dias, ou até a “decisão final”, suas bolsas e auxílios financeiros. Ao que parece a pressão do movimento negro racialista em busca de mídia e repercussão política (inclusa a pressão de corte de patrocínio), e a reação da sociedade a este “circo”, vão balizar a solução definitiva do caso.

A brincadeira de mau gosto parece não ser mais do que isso, num ambiente de quase confinamento entre jovens[4]. Outras brincadeiras de bom ou mau gosto devem ser feitas, outras características devem ser injustamente estigmatizadas. Um ambiente privado e no qual, como sói acontecer, os sentidos são próprios. Resta de fato uma questão hoje complexa: redes sociais são hoje uma extensão do privado ou um espaço público? Mas tais abutres querem tiram dali todo o sangue possível, todo capital midiático e político de que forem capazes.

E tirarão. Conseguiram punições descabidas e o linchamento público de jovens que cometeram a grave injúria de uma piada de mau-gosto de alguns segundos. “Ensinarão” que todas as conversas devem ser cercadas de cuidados quase jurídicos, que talvez seja melhor evitar quem apresente vulnerabilidades perigosas (quem sabe, uma frase impensada...) e que os “vulneráveis” (intocáveis?) podem mostrar-se apenas levemente constrangidos, sem o ônus de sua luta por respeito, pois seus terríveis “guardiães” os protegerão...

Um pouco sutil Big Brother negro nas relações pessoais a dividir um povo que tem, comparativamente, graus elevados, e crescentes, de tolerância. A divisão em um "povo negro" e um "povo branco", trabalhadores negros e brancos, jovens negros e brancos... A divisão em "raças", conceito obsoleto que tanto amam... Este é o legado do racialismo hidrófobo, deste proto-racismo. Como agirão os jovens atletas a partir de sua execração pública por motivo fútil e exagerado ao paroxismo, com ele e outros negros, até inconscientemente? Multipliquem isso pela sociedade...






[1] http://oglobo.globo.com/esportes/video-postado-por-atleta-expoe-racismo-na-selecao-de-ginastica-artistica-16169015
[2] http://www1.folha.uol.com.br/esporte/2015/05/1629609-confederacao-diz-repudiar-racismo-e-vai-apurar-video-com-ofensa-a-ginasta.shtml
[3] É quase inacreditável que haja uma “Comissão de Escravidão” no país...
[4] É o que diz o veterano ginasta Diego Hipólito: “não existe intolerância de nenhuma forma”. http://esportes.ne10.uol.com.br/noticia/2015/05/17/diego-hypolito-defende-ginastas-e-diz-que-ato-racista-foi-uma-infeliz-atitude-547080.php 

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