Wlamir Silva
Professor e historiador
O Brasil vive uma crise econômica que não é passageira – como quer fazer crer a presidente da República –, mas um desdobramento de problemas estruturais de uma economia assentada na exportação de commodities, excessivamente financeirizada e que vem se desindustrializando. Agravada pela inércia governamental no que diz respeito às questões estruturais, em diversos níveis, pelo aparelhamento do Estado por uma máquina partidária e a adesão, e justificação “ideológica”, a práticas clientelistas e corrupção.
O Brasil vive uma crise econômica que não é passageira – como quer fazer crer a presidente da República –, mas um desdobramento de problemas estruturais de uma economia assentada na exportação de commodities, excessivamente financeirizada e que vem se desindustrializando. Agravada pela inércia governamental no que diz respeito às questões estruturais, em diversos níveis, pelo aparelhamento do Estado por uma máquina partidária e a adesão, e justificação “ideológica”, a práticas clientelistas e corrupção.
A massa da população, despolitizada, assiste
atônita a um quadro que simplesmente não compreende. Com uma pequena maioria
reelegeu a presidente da República com base em mal explicados argumentos da
necessidade de deter certa “direita”. Agora vê, com ainda mais obscuros
argumentos, a presidente tomar decisões contra uma crise que ouviu a candidata
enfaticamente negar. Novamente se aponta para hordas de “fascistas” que
justificariam o apoio a ela, independente do que ela vier a fazer...
A propósito de um burlesco conflito de rua
entre meia dúzia governistas e oposicionistas, um personagem tragicômico alude a um “fascismo”
de “burguesinhos” e põe na conta do partido no poder uma melhora “da vida de
milhões de brasileiros”. A vitória parca nas eleições e os votos envergonhados
de muitos – é uma merda, mas é o menos pior – mostra que tal relação de causa e
efeito é cada vez menos reconhecida. Até porque a crise escancara os
pés-de-barro de tais mudanças.
A exaltada “distribuição de renda” por
políticas compensatórias e focalizadas já mostra o seu limite. A massa
salarial de baixo poder aquisitivo sofre muito qualquer “marola” e isso é agravado
pelas carências quase intocadas no que diz respeito ao saneamento, à saúde
pública e à educação básica. Pouco a pouco os que se animaram com o aumento de
consumo percebem que os fundamentos disso são frágeis e que boa parte se deve à
inercial popularização de bens de consumo eletrônicos pelo capitalismo e pela
China[1]. A carestia e o endividamento aumentam, o desemprego também.
O caso da Petrobrás soa, justamente, aos
ouvidos da população como um exemplo desta inércia estatal. Exatamente pelo
respeito que as pessoas têm pela empresa. Pelo papel dela no imaginário
popular. O “petrolão” conspurca um patrimônio popular e aprofunda o sentimento
já iniciado com o “mensalão”. Se fazem isso com a Petrobrás, do que mais são
capazes? Pensa o povo... A estratégia do “eu não sabia de nada” é cada vez
menos eficaz. A Petrobrás jamais será privatizada se depender do povo. A menos que se a vá destruindo por dentro, o que parece estar acontecendo.
Parte do drama advém da consciente
despolitização alimentada pelo Lulismo há mais de década. Apostando na “compra”
de apoios com migalhas compensatórias e mistificações. A cooptação de
movimentos sociais com cargos e verbas públicas foi complementada pela criação
midiática de uma “falsa direita”. Uma “direita fascista” descolada do grande capital,
pois este – os banqueiros que nunca lucraram tanto, as sócias empreiteiras, a agroexportação
e a mineração responsáveis pelo “paraíso” das commodities, inclusos os “heróis”
usineiros – vai muito bem... A qualquer crítica se responde com um compungido "a direita vem aí", como na história do menino e do lobo...
O melancólico discurso de Lula apelando para o “exército
de Stédile” é apenas um detalhe da ópera bufa da criação do fantasma do golpe.
As associações com Getúlio Vargas em 1954 e Jango em 1964 são a própria “história
que se repete como farsa” premeditada. Em obra clássica sobre 1964, o cientista
politico René Dreifuss delineou uma complexa articulação entre militares,
lideranças políticas civis, influência dos EUA e o capital, trazendo no fim uma
caudalosa lista de empresas apoiadoras do golpe. No panfleto lulista se insinua
uma lista de velhos roqueiros, humoristas, militares destemperados e políticos histriônicos.
Mas a pantomima continua. Sempre pela via da
despolitização, de um estelionato de ideias e de arapucas para consciências
distraídas. O Lulismo articula para o próximo dia 13 de março um ato (ou atos,
em várias partes do país)... A escolha da data é óbvia: fazer de Dilma – ou de
Lula? A títere ou o manipulador? – um Jango... Mas não param aí os enganos. As
convocatórias do “Ato” são díspares. É tradição dos movimentos sociais a ideia
de que tais convocatórias devem ser claras, e conhecidas as discussões sobre
que palavras de ordem devem entrar e quais os termos e significado. Para alguns
um “porre”... De fato mero respeito à consciência popular.
Não é o caso do “Ato” convocado por Lula e seus “braços” nos movimentos sociais e aliados perenes e ocasionais. A confusão é novamente premeditada. Parte é feita para um ato em defesa da Petrobrás. Afinal, quem não é a favor da Petrobrás? Associada à uma reforma política (ou constituinte) ou a defesa da democracia e direitos. Aqui e ali se busca costurar as generalidades num ato de desagravo a Dilma Rousseff. As generalidades públicas enganam, as costuras subterrâneas mostram o teor governista: “sindicalistas ,movimentos sociais, estudantis farão ato em defesa da Petrobrás, pelas reformas estruturais [e quais seriam?], política e contra o golpe do Impeachment [grifo nosso]”[2].
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Convocações "neutras", para atrair "trouxas" |
Como se este governo tivesse legitimidade para
defender a Petrobrás que loteou. Para defender reforma politica totalmente
enredado nas práticas mais vexaminosas. Para criticar cortes em saúde e educação,
imerso numa profunda inércia administrativa. Como se houvesse uma articulação golpista em curso no país.
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A manipulação lulista |
A “esperta” convocação para atos sem conteúdo
definido e na construção de um golpe imaginário é apenas mais um capítulo na
saga despolitizadora lulista. Na aposta na ignorância e na desmobilização
popular, com a cooptação de setores organizados e a mistificação da massa
popular. Na estudada falta de ideologia e debate sobre o país, encoberta por “marquetagens”
de “ricos versus pobres”, demonização
da “classe média” e outra bobagens sob medida para maquiar as profundas relações
com o grande capital.
O Lulismo é uma péssima escola para a democracia. Muito pior o é para uma mudança radical na sociedade. É a escola da manipulação da consciência e do cultivo da dependência dos trabalhadores. Para os que creem, de fato, que a emancipação da classe trabalhadora só pode ser feita pela própria classe trabalhadora, a mistificação lulista é um câncer.
O Lulismo é uma péssima escola para a democracia. Muito pior o é para uma mudança radical na sociedade. É a escola da manipulação da consciência e do cultivo da dependência dos trabalhadores. Para os que creem, de fato, que a emancipação da classe trabalhadora só pode ser feita pela própria classe trabalhadora, a mistificação lulista é um câncer.
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