
Há 12 anos
o Brasil vive sem uma oposição eficiente. Os parlamentares de oposição são
quase todos de direita, e por isso não podem bater pesado no PT, que faz um
governo de direita. Exemplo gritante, existem somente 50 milhões de empregos
para uma população de 200 milhões de brasileiros, mas o governo diz que vivemos
uma situação de pleno emprego e essa oposição incompetente não discorda, e
ainda o confirma até em seus programas eleitorais. Para a direita, ou seja,
para capitalistas, o desemprego é uma necessidade, pois é o que achata os
salários, e dizem alguns tucanos que o salário mínimo está alto!?!? Além do
absurdo da declaração, é flagrante a incapacidade oposicionista dessa gente. A
oposição verdadeira, de esquerda, socialista, é minúscula sob o PT, até pela
ilusão do proletariado em uma suposta utilidade em se manter esse partido no
governo.
Marina
aparece como uma saída não tão retrógrada do tempo petista. A massa de
trabalhadores pobres do Brasil não engole mais a opção tucana, claramente
elitista, capitalista até a medula. O disfarce socialdemocrata do PSDB acabou
ainda sob FHC e as últimas campanhas desse partido mostraram-se ainda mais à
direita do que o próprio governo que fizeram. Marina tem cara de trabalhadora,
foi ministra de Lula, por isso é mais aceitável para o eleitorado, que espera,
com ela, sair de baixo do julgo petista sem retroceder. Afinal, se ela foi
ministra de Lula a ruptura não seria tão grande. Por isso a vitória de Marina
está condicionada ao discurso que ela fizer no segundo turno. Se ela continuar
fazendo declarações idiotas, ou seja, capitalistas, vai perder a parte mais
avançada de seu eleitorado, ficar só com os eleitores de direita, e perder. Um
conhecido teórico de esquerda afirmou que o segundo turno entre Dilma e Marina
será uma disputa de promessas ao capital, mostrando que mora na Lua. As
ex-ministras de Lula terão que disputar o proletariado, e a que não o fizer com
competência perderá as eleições. O apoio explícito do PSDB a uma das
candidatas, aliás, pode ser um beijo da morte, derrotando essa candidata.
Em um muito
possível governo de Marina, dadas as declarações que ela já fez nessa e na
campanha passada, e dados os assessores que a cercam, podemos esperar um grande
crescimento de uma verdadeira oposição. A direita, cansada de fazer uma
oposição para a qual é incapaz, se apressará a oferecer apoio à nova
presidente, acentuando suas tendências liberais. O eleitorado de esquerda,
precisando de oposicionistas competentes e honestos, abandonará ainda mais
rápido o PT e seus aliados igualmente desmoralizados, cuja inutilidade será
agora explícita, e votará nos partidos mais linha-dura, que batem com força. O
PT, aliás, será linchado publicamente, pois não terá mais a cobertura do
Planalto para se defender das acusações de corrupção, e nunca terá o
acobertamento de classe que as elites dispensam aos seus próprios membros, nem
a proteção do povo, a quem traiu.
A política
econômica de Marina é tão ineficiente quanto a dos tucanos e dos petistas, pois
é igualmente liberal em um país que precisa desesperadamente de ação direta
estatal. A crença liberal é ainda mais falsa e absurda que as crenças
religiosas, e exige muito mais cegueira, embora seja hegemônica em nosso país
(as idéias dominantes em uma sociedade são sempre as idéias da classe
dominante). Se o governo Dilma se mantivesse, na mesma linha atual, ainda assim
teríamos convulsões sociais de grandes proporções nos anos vindouros, mas em um
governo que além de não fazer o que é necessário ainda adote medidas
liberalizantes teremos uma grave recessão. Se Junho aconteceu sem uma grave
recessão, imagine-se o que será do país com a recessão!
A
declaração mais idiota feita por Marina sobre economia foi a defesa da
independência do Banco Central. Verdade que desde FHC o BC já atua de forma
independente, nas mãos do mercado, e que os petistas mantiveram a mesma
situação, contudo, oficializar isso é amarrar as próprias mãos, e logo quando a
crise econômica bate às portas. O controle do governo sobre o BC existe para
valorizar e desvalorizar a moeda conforme os interesses do país. Exemplo
simples, se o país está muito deficitário e precisa realizar um valor menor de
importações pode desvalorizar a própria moeda, desincentivando as importações e
incentivando as exportações, ou pode fazer o contrário se precisar reduzir os
custos de vida e de investimento. Controlar o valor da própria moeda é uma
questão de soberania e há quem diga, “me dê o controle da emissão de moeda de
um país e eu não me importarei com quem está no governo”. Não é de fato
catastrófica com querem os petistas a declaração de Marina. Ela está só
confessando que não entende nada de economia e que pretende atar as próprias
mãos. Um governo posterior minimamente sensato poderá simplesmente desfazer
essa independência e ainda investigar os abusos cometidos e colocar na cadeia
os envolvidos. A declaração da candidata, porém, comprova que ela não sabe como
resolver os problemas econômicos da atualidade, e que está cercada de gente que
também não sabe, e que propõem coisas que piorarão a crise.
Para derrotar
Marina os petistas estão abusando do “perigo evangélico”, quando sabem que é
ridículo imaginar que uma presidente poderá obedecer a um pastor e não a uma
coligação de aliados políticos. O governo de Marina não será um governo dos
evangélicos, a não ser que ela queira encurtar sua passagem pelo Planalto. Os
evangélicos no Brasil cresceram exatamente pelo motivo oposto pelo qual eles
surgiram na Europa no século XVI. Lá, nasceram enfrentando uma Igreja Católica
medieval, conservadora, enquanto aqui cresceram como viúvas da Igreja Católica
conservadora. No Brasil, os evangélicos atuais são a linha dura do catolicismo,
revoltados com a Igreja Católica porque ela se tornou tolerante demais. Claro,
há exceções, posto que o protestantismo permite praticamente que cada igreja
tenha sua linha própria, mas majoritariamente, é movimento de “fundamentalismo”
religioso (entre aspas porque na verdade eles não se apegam a nenhum
fundamento, mas só a preconceitos mesmo). Ao mesmo tempo que isso torna essas
igrejas perigosas, também as tornam isoladas e impossibilitam, como alguns
temem, um governo religioso. O “perigo evangélico” é, hoje, só um bicho papão
usado pelos petistas para tentarem se manter no Planalto. O governo de Marina,
aliás, deve desmoralizar os políticos evangélicos como um todo, fortalecendo
dentro das igrejas o movimento para não se misturar religião e politicagem. Se
as igrejas evangélicas continuarem se comportando como partidos políticos, não
tomarão o poder, mas perderão adeptos, serão cada dia mais atacadas e logo estarão
pagando impostos.
A bandeira
verde só complica ainda mais a situação de Marina em caso de vitória, pois
presa à crença liberal qualquer medida ambientalista reduz produtividade,
encarece preços, dificulta investimentos etc. A única maneira de se combinar
desenvolvimento econômico com preservação ambiental é uma economia planejada e
controlada por um Estado forte. Exemplo claro, os descartáveis. Obviamente o
interesse ambiental é não produzir mais descartáveis, mas somente produtos
recicláveis e de uso prolongado, reduzindo os gastos em matéria prima, em
energia e reduzindo a poluição. Contudo, em uma economia de mercado, ao
contrário, o necessário é vender sem parar, e para isso não há nada melhor que
descartáveis. Proibir os descartáveis, coisa que ninguém nem propõe, seria o
mesmo que quebrar o país imediatamente, fechando milhares de fábricas. Só em
uma economia planejada tal medida seria possível, pois nesse caso fechar
fábricas não geraria problema algum, sendo que o Estado poderia garantir os
empregos, adaptar as máquinas e os prédios etc., como já se demonstrou no
século XX. Mas, como sabemos, nem se quiser, e não quer, Marina estabelecerá
uma economia planificada, então ou bem ela decepcionará todos os seus eleitores
verdes, que naturalmente virão para as fileiras da oposição, ou defenderá
medidas que complicarão a já frágil economia, sendo muito possível que ela faça
ambas as coisas.
De qualquer
forma, pelo pouco que se pode deduzir por enquanto, já sabemos que Marina
engrossará a oposição nos parlamentos e nas ruas. Ela realmente deve trazer o
espírito de Junho, mas não porque conseguiu o incorporar, mas porque depois de
alguns meses decepcionando os eleitores todo mês será Junho!
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