HAITIANOS NO BRASIL: AS PERVERSAS CONTRADIÇÕES DO IMPERIALISMO



Wlamir Silva
Professor e historiador

Assistindo a um programa sobre "refugiados" (imigrantes?) do Haiti que chegam ao Brasil não posso evitar certas reflexões. Lá se aponta para o nível de educação daqueles que chegam, muitos com formação superior e, até mesmo, a boa compleição física que apresentam. Isso vindos de um país com 50% de analfabetismo, 30% de conclusão do ensino primário e taxas mínimas de acesso ao ensino médio. Apenas 1,4% dos homens e 0,7% das mulheres cursam o ensino superior no Haiti. Além disso, 80% da população vive abaixo da linha de pobreza e mais da metade como indigente (dados de 2003).

Os 30 mil haitianos que emigraram para o Brasil nos últimos três anos (3 % da população) estão, certamente, entre os poucos com formação superior e com ensino médio. Historicamente o imperialismo criou elites restritas privilegiadas pelas migalhas da sua exploração. No Haiti a concentração das benesses do imperialismo estadunidense imbricou-se, desde os fins da década de 1950, às violentas ditaduras de Papa Doc e Baby Doc. Tais heranças marcam o Haiti até hoje, numa aparentemente irrecuperável destruição econômica – num paradoxo de destruição ambiental sem desenvolvimento econômico – e incapacidade institucional.

O terremoto de 2010 só aprofundou o caos haitiano, exigindo auxílios internacionais que, no entanto, se perdem nos meandros da falência política do país. Estes imigrantes são refugiados deste caos, mas também sobreviventes relativamente privilegiados dele, filhos e netos dos que, ao menos, não sucumbiram à violência e corrupção das ditaduras haitianas e de seus desdobramentos. São também a perda de pessoal qualificado necessário à reconstrução do país, em vários casos, ironicamente, suprindo a falta de mão-de-obra qualificada brasileira. O imperialismo é perverso em suas contradições.



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