Elevação do teto da dívida dos EUA: A verdadeira questão

- "Nenhum compromisso! Eu vou explodir isso tudo"
- "Oh meu Deus! Ele é um homem bomba!"
- "Pior... Ele é um Republicano do Tea Party recusando elevar o teta da dívida!"

2013 tem sido um ano terrível para os EUA, e essa semana, 14 a 18 de Outubro de 2013, é possível que pela primeira vez em sua história esse país decrete uma moratória, ou seja, um calote internacional, o maior que já ocorreu! Não vou entrar aqui no debate sobre as consequencias, até porque não acreditamos que a degeneração mental dos capitalistas já tenha chegado a esse limite. O que nos interessa aqui é, aliás, exatemente esse ponto - o que leva os capitalistas às posturas irracionais que têm adotado? Nos EUA são contra elevar o teto da dívida, na Europa são contra aliviar a situação dos países mais pobres, no Brasil (sempre a caricatura) são contra o Bolsa Família. O que significa isso?

Vejamos pelo ponto de vista financeiro. Dos três gastos que os capitalistas querem conter nos três diferentes continentes citados, o europeu seria o único significativo. A Alemanha, centro do bloco, teria que permitir a emissão de toneladas de euros para cobrir os défits dos países mais pobres da União Européia, de forma a garantir a permanencia deles no bloco. Dada a recompensa, é um gasto pífio, até porque o euro já se tornou, como o dólar, uma moeda internacional, ou seja, o mundo todo dividiria essa conta com os alemães, pois todos teriam suas reservas de euros desvalorizadas pelas novas emissões, e só.

Da mesma forma, se os EUA elevarem o teto de sua dívida, na prática, emitirão dólares. Ora, teríamos o mesmo efeito acima citado sobre o euro. O dólar sofreria alguma desvalorização como forma de pagamento real por essas emissões, e essa desvalorização seria paga pelo mundo todo. 

Ah, sim, claro, ambos, EUA e UE, vivem presos às crenças monetaristas, de forma que têm pânico de emitir moeda, para eles um pecado contra a doutrina liberal. Então, para manter a sagrada estabilidade da moeda, sobretudo os EUA, aumentariam os impostos. É esse aliás o plano! Mas mesmo assim, de que vale essa elevação de impostos para os muito ricos dos EUA, que financiam o Tea Party, o resto do Partido Republicano e a maioria dos Democratas? Ficariam pobres? Seria uma grande distribuição de renda? Não, nada disso, não os afetaria!

Em resumo, até agora não encontramos a razão econômica que explique os chiliques das elites capitalistas. No caso brasileiro a coisa fica mais clara. O Bolsa Esmola não arranha o orçamento, e seu peso na carga tributária é desprezível. Se o Bolsa Esmola fosse cancelado o dinheiro nele investido não daria para fazer nada que pudesse ser sequer percebido pela população. Trata-se de uma miséria, exatamente como qualquer esmola. Porém, o ódio dos capitalistas faz parecer que se está lhes arrancando dinheiro, quando eles ficam de fato cada dia mais ricos.

Também se deve ressaltar que em nenhum desses casos o que se propõe é sequer semelhante ao socialismo, ou ao menos cria qualquer justiça social. Nos EUA o que os Republicanos exigem para aprovar a elevação do teto da dívida é que se corte as verbas para a saúde do povo miserável, cerca de 42 milhões de pessoas. Na Europa, se a Alemanha permitisse emitir euros os países mais pobres simplesmente manteriam o mesmo nível atual de empregos públicos e salários, nada mais. E no Brasil, só os petistas "acreditam" que a esmola pública tem algum efeito que mereça ser levado em conta.

Contudo, dado nosso atrazo social e cultural, nossas elites são mais transparentes, e alguns exemplares acabaram confessando o que realmente lhes irrita. Nas regiões mais pobres o salário era tão baixo que a bolsa família gerou uma elevação do mesmo. A diária de um "bóia fria" dobrou de uma hora para outra em algumas regiões. Teriam os bandidos que pagam essas diárias empobrecido? Claro que não! Mas chegamos no ponto central, que realmente irrita os capitalistas.

O trabalho assalariado é uma forma de roubo, assim como a escravidão. É uma forma de roubar o trabalho alheio, ou seja, a vida alheia. A diferença é que a escravidão se dá pelo domínio político, ou seja, da força estatal que mantém o escravo na escravidão, enquanto o assalariamento se dá pelo domínimo econômico, ou seja, da força da fome, que obriga o "livre" a vender sua liberdade para que seus filhos não passem fome.

Quando se estuda o capitalismo em qualquer país sempre é necessário conhecer a disponibilidade de um fator, a mão-de-obra! Sem mão-de-obra barata nunca teria ocorrido a Revolução Industrial. No Brasil pode-se observar os comentarias econômicos, sempre do ponto de vista capitalista, reclamando da falta de mão-de-obra, quando o povo trabalhador reclama da falta de empregos. Nenhum dos dois está mentindo, por estranho que pareça. Acontece que os capitalistas precisam de mão-de-obra inclusive para constituir uma reserva de desempregados, que é só o que pode conter os salários. Em resumo, enquanto para os trabalhadores quanquer desemprego é muito, para os capitalistas existe um nível ideal de desemprego, que não gere tanta revolta popular mas mantenha os trabalhadores com medo de perderem seus empregos para os desempregados.

Essa é o ponto! Os capitalistas dos EUA não querem o programa de saúde de Obama, porque acham que o desemprego assim ficaria muito pouco assustador. Eles querem os 42 milhões de miseráveis desesperados em busca de dinheiro, pois é esse o chicote que move os trabalhadores no capitalismo. Da mesma forma, os capitalistas europeus querem mais é reduzir os empregos públicos e seus salários, obrigando mais europeus a trabalharem e a buscarem empregos.

A crise do capitalismo, aguçada pelas exportações chinesas, deixou esses capitalistas ainda mais apreensivos, e como não têm nunca solução nova, estão buscando a solução antiga - Para reduzir seus custos e competir com os chineses querem sangrar os trabalhadores. Mais uma vez irracionais, pois nem assim, nem mesmo se voltassem a escravizar à moda romana, poderiam concorrer com a China. Resmunguem quanto quiserem os capitalistas, mas no dia em que aprenderem a fazer contas notarão que um escravo na Europa é mais caro que dois assalariados na China, e isso para nem levar em conta outros custos, como energia e matérias primas.

Voltemos porém à questão da mão-de-obra. Países socialistas também enfrentam esse problema. Aliás, hoje o maior problema econômico de Cuba são os milhões de cubanos que resolveram não trabalhar. A mentalidade das pessoas se modifica lentamente, ou seja, uma Revolução de 50 anos ainda convive com um povo que pensa de forma capitalista. Na mentalidade capitalista dos trabalhadores o trabalho só existe para ser remunerado, ou seja, para sustentar a família. Se o estado garante saúde, educação, moradia, alimentação, diversão e até vestimentas, para que trabalhar? Cuba não é a primeira experiência socialista a enfrentar esse problema, que aliás não seria novidade para Marx, que sabia que por muito tempo depois de derrubados os capitalistas seria necessário continuar comprando o trabalho aos trabalhadores, mesmo por parte de um governo dos próprios trabalhadores. O contrário exigiria por parte de cada trabalhador sua compreensão completa de seu papel no processo produtivo, de forma a compreender que de fato é ele mesmo que está produzindo tudo o que tem. Mais que isso, exigiria poderosa formação moral de forma a não se decidir a mesmo assim viver do trabalho alheio. Cada Revolução seguirá seu próprio caminho para resolver esse assunto e nossa intenção aqui não é oferecer modelos.

A postura capitalista, embora compreensível do ponto de vista deles, é absurda, destinada a completo fracasso. O caso mais brando, mais uma vez, é o brasileiro, e mesmo assim vimos há algumas semanas o tamanho da confusão gerada pelo boato do fim da Bolsa Família. Só o que estão conseguindo é irritar o povo, que só pode tentar explicar esses posicionamentos como avareza e crueldade, ou seja, segundo o mundo das telenovelas, de forma que vive procurando heróis e vilões no mundo real. Os capitalistas sempre alimentaram essa mentalidade idiota, e agora estão querendo pangar por mais esse erro, virando os bandidos que o povo busca.

Comentários