Wlamir Silva
Militante do PCB e Historiador - wlamir-silva@uol.com.br
A tentativa de organização da rede de sustentabilidade e a adesão de Marina Silva ao PSB somadas ao resgate pelo PSDB do seu discurso político são alvissareiros para a política brasileira. Pois podem reavivar o debate político com vistas às eleições do ano que vem pela quebra do virtual monopólio lulista em âmbito federal. Ainda que circunscrito a alternativas eleitorais conservadoras e à subjacente desorganização das esquerdas.
A tentativa de organização da rede de sustentabilidade e a adesão de Marina Silva ao PSB somadas ao resgate pelo PSDB do seu discurso político são alvissareiros para a política brasileira. Pois podem reavivar o debate político com vistas às eleições do ano que vem pela quebra do virtual monopólio lulista em âmbito federal. Ainda que circunscrito a alternativas eleitorais conservadoras e à subjacente desorganização das esquerdas.
A quebra do monopólio lulista pode
obrigar ao esclarecimento das posições da candidatura Dilma. Por exemplo, em
relação a questões como as das privatizações, da paralisia das ações quanto à
infraestrutura no campo econômico, do enfrentamento de questões estruturais
como as do saneamento, saúde, transporte e educação e à manutenção e reforço de
práticas clientelistas. O retorno do PSDB ao seu projeto político e ao
patrimônio da era FHC pode forçar a provável candidatura Aécio à exposição de
seus princípios e responsabilidades quanto à história recente. Quanto ao papel
do Estado e a corresponsabilidade no enfrentamento das questões estruturais do
saneamento, saúde, transporte e educação e das práticas clientelistas, que, é
claro, não se acumularam apenas na última década.
A polaridade Dilma X Aécio pode
obrigar ao cotejamento das pequenas diferenças entre dois projetos semelhantes.
Privatizações, ou concessões, terão de ser explicadas em suas supostas
necessidades e vantagens. Assim como a falência do SUS, o caos nos transportes
e os dilemas da educação pública. A estratégia derrotada do mimetismo de Serra
e a correspondente desnecessidade de assumir compromissos de Dilma nas últimas
eleições não devem se repetir em 2014. Lembremo-nos de que as próximas eleições
se dão sob o influxo difuso das manifestações de junho. E que as questões lá
levantadas de forma instintiva serão motes da campanha. Dentre elas as práticas
políticas clientelistas e de loteamento do Estado. A existência de três
candidaturas com força relativa favorece a esta discussão, que deve ser
alimentada pelos setores de esquerda e particularmente pelos comunistas, como
um passo no sentido de qualificar a luta política no país.
Não deixa de ser interessante que
Eduardo Campos e Marina Silva tenham assinalado como elemento do discurso de
suas possíveis candidaturas a crítica à “velha política” patrimonialista e ao
loteamento do Estado. Não que creiamos na plena crítica a estes princípios por
eles – e nos cabe a crítica cotidiana e estratégica. Mas porque tais práticas
foram sobremaneira naturalizadas pelo lulismo, sua crítica de há muito abandonada pelo
PSDB e são encaradas como inexoráveis por setores mais à esquerda, dentro do PT
ou do PCdoB, por exemplo, como um tributo necessário e neutro em busca de
pequenas conquistas pontuais. Como se estas práticas não fossem incompatíveis
com a emancipação social, que só pode avançar com a organização e a renovação
da lógica política num sentido popular.
Faz parte importante de tal
quadro as inconsistências ideológicas do PSB e da rede de Marina Silva. Pois elas levantam questões sobre o que são
as práticas de real transformação social – cruzando também com o transformismo conservador
lulista – e do que seria um real projeto revolucionário. Em tal conjunto de
questões o conceito de rede pode
provocar uma reflexão importante sobre a suposta oposição entre a passiva
aceitação do partidarismo conservador e patrimonialista – já apontado pelo lulismo
como um “realismo” – e a fragmentação pós-moderna da “rede”. Mas também, por
que não, da discussão sobre a perspectiva de um partido revolucionário hoje,
numa discussão necessária sobre questões como vanguarda e massas, movimentos
sociais e eleições, representação política e possibilidades efetivas de uma
frente de esquerdas. A ampliação do espectro de discussão política só favorece
as nossas perspectivas.
Comentários
Postar um comentário