Do fracasso da União Européia à revalorização do dólar

Há dias atrás do blog Estudos Vermelhos publicou um artigo defendendo o Mercosul, a Unasul, e o papel brasileiro na formação desses blocos em contraste com o fracasso da União Européia e do papel alemão. Agora, no mundo todo, o dólar se valoriza, o euro perde valor e o iene continua sua queda que já dura anos, resultado da falência dos antes chamados "tigres asiáticos", as colônia econômicas do Japão.


A ligação entre os dois assuntos é enorme. A criação do euro foi a maior cacetada que o dólar tomou desde a crise do petróleo, em 1973, que acabou no final favorecendo a moeda mundial. Talvez pior, tenha sido a maior pancada desde 1944, quando se iniciou o apogeu do dólar, consagrado como moeda mundial pelos acordos firmados em Bretton Woods pelas potências capitalistas que ficaram do lado vitorioso na Segunda Grande Guerra. A guerra estava no fim, a União Soviética tinha se tornado uma potência econômica e militar, o antigo sistema financeiro tinha ruído junto com a Alemanha e com milhares de banqueiros judeus, estava debaixo dos escombros de Londres. Fortalecer o dólar foi uma medida de unidade entre os capitalistas em uma hora difícil.

Contudo, o dólar foi aceito como moeda internacional, em substituição ao ouro, com a condição de ser lastreado em ouro, ou seja, valer uma quantia fixa de ouro, que poderia ser resgatado a qualquer momento por qualquer um que portasse dólares. Governos, empresas e indivíduos, porém, preferiam fazer o contrário, apostar no dólar, e muitos governos guardavam (e ainda guardam) suas reservas de ouro no Forte Knox, junto às reservas dos EUA. Isso até 1973.

Em 1973 os EUA estavam envolvidos há quase dez anos na Guerra do Vietnã, perdendo e gastando. Não se sabe quanto de suas reservas de ouro os EUA gastaram nesse guerra, mas gastaram muito e também imprimiram muitos dólares. Explodiu então a guerra de Yon Kipur, entre árabes e Israel. Com armas e dinheiro dos EUA, Israel venceu os árabes nos campos de batalha. A reação árabe foi usar o petróleo como arma contra os EUA, elevando estratosfericamente seu preço! A dupla pressão, entre a guerra no Vietnã e a guerra econômica árabe, foi demais para o dólar! Não havia ouro para manter os acordos de Bretton Woods, nem nada semelhante.

A resposta dos EUA foi recebida pelo mundo todo como um roubo. Unilateralmente, os EUA informaram que não respeitariam mais o valor do dólar em ouro conforme os acordos de 1944. Ou seja, ligaram as máquinas de imprimir dinheiro, iniciando uma constante desvalorização do dólar, que seria completamente normal se se tratasse da moeda de uma nação só, de forma que a inflação seria paga somente por essa nação. Porém, como se trata de uma moeda internacional, usada por diversos países do mundo como lastro, sua desvalorização é paga por todo o mundo.

As reações foram imediatas, tanto por parte do mercado quanto por parte de diversos governos. A França chegou a propor a volta ao ouro como moeda de troca internacional. Porém, embora o bloco capitalista já mostrasse sinais de divisões, com a Alemanha e o Japão reconstruídos tomando mercados dos EUA, o dólar foi mantido como moeda internacional porque a maioria dos países exportadores de petróleo continuaram só vendendo em troca de dólares. Eles tinham acumulado dólares criando a crise do petróleo, e não tinha sentido que agora deixassem seus dólares perderem todo o valor.

A contrarevolução na União Soviética iniciara-se nas décadas de 50 e 60 e se completou em 1989. Depois disso o mundo capitalista não tinha mais porque ficar unido e os choques se acentuaram. A União Européia resolveu criar o euro. Uma moeda única da Europa certamente teria peso, como teve, para concorrer com o dólar como moeda internacional. De fato, um terço das reservas internacionais de muitos países do mundo chegaram a ser em euros, e talvez ainda sejam. A política da União Européia foi de valorizar o euro, como forma de mostra-la como um produto mais seguro que o dólar. O que poderia Washington fazer contra seus maiores aliados? O dólar passou a viver então sua decadência, também porque além de enfrentar o euro a economia dos EUA enfrenta poderosos concorrentes.

A liderança alemã, contudo, está fracassando na União Européia. A fé liberal e monetarista está se mostrando mais forte que a razão, e em plena crise, quando naturalmente é necessário acentuar as medidas sociais, os políticos alemães pregam a austeridade, o corte de direitos e benefícios. Ao invés de se aproveitarem do caráter internacional do euro e o imprimirem para suprir todas as necessidades, deixando acontecer a inflação, que será distribuída pelo mundo todo, querem evitar a inflação. Todo o sul da Europa começa a falar seriamente da possibilidade do euro fracassar e da volta das moedas nacionais. Já surgem artigos tratando dos diferentes cenários e das diferentes formas como o euro poderia ser largado ou dissolvido como um todo. Naturalmente, essa crise européia, que é econômica, política, ideológica, em uma palavra, social, é conhecida do mundo todo e abala o prestígio do euro. No mundo todo, governos e particulares começam a pensar em trocar suas reservas de euro por dólares, por imóveis (no Brasil esse ano alta de 5% e ainda estamos em junho), por ouro etc.

O que fracassa é o capitalismo em sua auto afirmação posterior à queda da União Soviética. Inebriados com o sonho da vitória final e da perpetuação do capitalismo, os capitalistas começaram a acreditar em suas próprias mentiras. A realidade eles já abandonaram há muito tempo...

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