Eis a saída natural para a recuperação do movimento
universitário no país todo! No período FHC, a UJS, juventude do PCdoB, força
que sob o comando de João Amazonas combatia o governo com eficiência e coerência,
tornou-se majoritária no movimento estudantil. Iniciado, porém, o período
petista, o PCdoB atrelou-se ao governo, abrindo mão de todo o resto. Logo no
início do período Lula, faleceria João Amazonas, facilitando a deriva do PCdoB.
O movimento estudantil desde então está silencioso, quase morto, dominado por forças
governistas. A UJS domina a maioria dos cerca de 200 DCEs do país, e com essa
base domina as UEEs e a UNE. O método de controle da UJS sobre os DCEs é o
mesmo usado pela burguesia para dominar os municípios, os estados e a União –
eleições diretas!
Só quem participa da política diretamente, envolvendo-se em
chapas e coligações, tem completa noção do quanto são sujas e antidemocráticas
as eleições diretas. A regra geral é simples. Quanto maior o eleitorado, mais
grana envolvida e mais sujeira! Quem ingressa no movimento estudantil deseja
atrair outros estudantes para o movimento, deseja que as coisas funcionem, que
sejam publicados jornais, que aconteçam eventos e movimentos. Porém, o calouro
é logo jogado dentro de uma chapa. Internamente o calouro já assiste as
indignas disputas por cargos, mas isso se torna coisa pouca quando começa a “campanha”.
Então os calouros assistem horrorizados o que os veteranos já tentam não
prestar atenção. Ataques pessoais substituem o debate de idéias, as cartas
programas são cópias umas das outras prometendo o paraíso, nunca se sabe de onde
vem o dinheiro das campanhas e caso raro é quando não acontecem incidentes
violentos e fraudes. A reação de todo estudante normal é se afastar, pois não
vai querer que um dia seu nome e sua foto estejam expostos em cartazes e
panfletos anônimos onde é chamado de ladrão, puta, traficante, golpista etc.
O estudante que insiste em fazer movimento universitário tem
que enfrentar todo ano eleições para seu CA, seu DCE, congressos das UEEs e da
UNE e se se envolver mais acabará participando de eleições de CAs dos outros,
DCEs dos outros e até de outros movimentos. Sim, nota-se só pela descrição,
esses militantes só têm uma prática, um treino – as eleições! Em resumo, a
teoria pode ser marxista, ou a isso se pretender, mas a o treino é para carreirista
político, e isso tem um significado bem mais sujo do que podem imaginar os que
jamais fizeram política. Fazer carreira exige passar por cima dos outros, obter
resultados a todo custo, portanto dar golpes eleitorais, conseguir grana para
as campanhas, dar ou mandar dar porrada, caluniar, fazer apologia mentirosa dos
próprios candidatos etc. Conheci militantes que faziam sexo por alianças e
votos! Naturalmente, militantes treinados como bandidos não hesitam em usar
entidades estudantis como comitês eleitorais de seus partidos, na gíria, como “trampolins
eleitorais”, “aparelhos”, e então a desmoralização do movimento cresce ainda
mais.
Até a ditadura militar, os CAs dominavam o movimento
universitário, e até os DCEs eram dirigidos pelos CAs. A ditadura tentou acabar
com os CAs e impôs os DCEs com eleições diretas. Não é um contra-senso, como todos
imaginam. Na verdade a ditadura manteve também eleições diretas para os
municípios, (com exceção das capitais que tiveram prefeitos indicados por
alguns anos) para deputados, senadores e acabou liberando as eleições para
governadores. Também nos sindicatos as eleições diretas não eram do desagrado
da ditadura. A oposição entre ditadura e eleições é uma crença infantil.
Hoje, depois de assistirmos por décadas os efeitos das
eleições diretas sobre os movimentos sócias, podemos entender a finalidade da
ditadura quando promoveu essa forma de (dês)organização. A volta do poder dos
CAs já foi testada. Há quase dez anos o DCE da UFSJ, em São João del-Rei,
livrou-se das eleições diretas e dos carreiristas. Claro que não se tornou um
paraíso, mas deixou de ser uma pocilga. Hoje, é um movimento em lenta
reconstrução, em constante amadurecimento, que multiplica os militantes ao
invés de assustá-los.
A experiência da UFSJ não faz esforços para se espalhar nem
mesmo para se defender, apesar de ter poderosos inimigos que oferecem dinheiro
e recursos para derrubar os CAs. Apesar disso, tem inspirado estudantes de
outras universidades. Há uns 2 anos, os estudantes da UNB optaram por entregar
o poder aos CAs, mas a chapa que venceu com essa promessa, pelo visto a traiu,
e não ouvimos mais falar da UNB. Seu DCE deve estar outra vez nas mãos de algum
partido, e a chapa que tinha proposto o poder dos CAs certamente perdeu todo o
respeito de seus eleitores. Agora, novamente, uma chapa venceu eleições diretas
propondo acabar com as eleições diretas. Foi na UERJ, Rio de Janeiro. Teve mais
de 4000 mil votos, contra menos de 2000 dos adversários que ficaram em segundo
lugar. É simples, os estudantes já não têm mais estômago para o vergonhoso
espetáculo das eleições de DCE. A chapa vencedora tem agora seu prestígio nas
mãos! Se fraquejar como os candangos perderá o respeito de todos e a chance de
crescer como força política nacional.
Vai surgindo um vácuo nos movimentos sociais. PT e PCdoB, no
governo, traem os movimentos que dirigem. A direita inteligente filia-se ao PT
e mesmo ao PCdoB. A direita burra não consegue inserção, cometeu suicídio
político ao aparecer de cara limpa na internet, já não tinha condições de
assumir os movimentos sociais e agora corre o risco de ser isolada em grupelhos
caricaturais. Somente da esquerda socialista, verdadeira, poderia surgir a
força capaz de liderar os movimentos sociais para a ressurreição. Porém, nossos
camaradas preferem discutir o sexo dos anjos, e muitas vezes revelam não ter
coragem de enfrentar o regime político, com destaque para sua pedra angular, as
eleições diretas!
É simples e claro! A força que quiser substituir a UJS como
direção do movimento universitário tem um caminho firme – protagonizar a
retomada dos DCEs pelos CAs no Brasil todo, tirando o chão da UJS. Em outras
palavras, tem que atacar as eleições diretas de frente, mostrar seus defeitos,
provar sua ineficiência. É preciso
coragem e coerência política! O contrário é incoerência e desonestidade teórica
e política. Forças que defendem o socialismo da boca para fora, mas na prática
defendem o poder do capital, eis o que são as forças que defendem eleições
diretas. Foram eleições diretas que extinguiram a União Soviética, são as
eleições diretas que colocam em risco a Revolução Bolivariana e poderiam
destruir todas as Revoluções socialistas. Foram eleições diretas (embora em
regimes parlamentaristas) que colocaram Hitler, Mussolini e Bush no poder. O
capitalismo se sustenta com esse tipo de eleição, o poder do dinheiro e dos
ladrões.
A força que ora se destaca como possível futura força
majoritária no movimento universitário são as Brigadas Populares, que montaram
essa chapa no Rio de Janeiro. O resto da esquerda vacila. Nosso Partido,
Comunista, tem militantes que defendem eleições diretas, ou seja, o poder
capitalista. A União da Juventude Comunista defende o poder das entidades de
base, os CAs, mas não toma a dianteira da luta pela volta do poder dos CAs. Na
prática, temos nos conformado em sermos aliados menores de PSOL e PSTU em
diferentes chapas de DCE, o que sempre leva as coisas para um caminho oposto ao
que queremos. Ambos, PSOL e PSTU, defendem eleições diretas. O PSTU tenta criar
um racha da UNE, a ANEL, que no entanto reduziu-se a uma corrente do PSTU, pois
as outras forças políticas quase todas permanecem na UNE, inclusive a gente. O
PSOL tenta ser a oposição de esquerda à UJS, mas usando os mesmos métodos,
vencendo eleições diretas para dominar e usar DCEs como trampolim. O PSOL chega
defender eleições diretas para a própria UNE, fazendo eco à imprensa imperial
que existe no Brasil como uma força de ocupação estrangeira.
Se os estudantes da UERJ retomarem seu DCE, seus CAs se
fortalecerão, a militância voltará a se multiplicar e o barulho das ruas do Rio
de Janeiro será ouvido no país inteiro!
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