Camarada Sérgio Miranda! Presente!

Sérgio Miranda, paraense, veio para as Minas Gerais durante a ditadura, quando o Partido Comunista trocava os militantes de um estado para outro como forma de dificultar a perseguição política. Na época o PCB estava sob controle dos traidores que criaram o PPS e formam ao lado dos tucanos, mas o PCdoB era dirigido por João Amazonas. Sérgio Miranda militou no PCdoB por cerca de 40 anos!



Dificilmente Sérgio Miranda teria precisado romper com o PCdoB se não fosse ele o deputado federal desse partido por Minas quando foi aprovada a reforma da previdência. Porém, como deputado, ele não aceitou trair os aposentados, e preferiu, coisa rara, descumprir uma decisão partidária. A decisão partidária, no caso, já estava tomada há anos, desde a morte de João Amazonas, e era a completa submissão ao PT, mas Sérgio certamente não podia aceitar isso.

Hoje todos sabemos que a reforma da previdência foi aprovada com a compra de votos com dinheiro público, a sujeira que a mídia chama de mensalão. Os mesmos dirigentes petistas que enquadraram o PCdoB para votar essa traição, hoje estão sendo condenados pelo STF pelo roubo de dinheiro público e pela compra de votos de deputados e senadores, o que inclui a formação de quadrilha, como se já não tivessem cometido esse último crime desde a década de 80. Portanto, Sérgio Miranda não resistiu somente às pressões de seu partido e do governo, mas provavelmente também resistiu a grandes ofertas de dinheiro.

Depois desse ato heroico, os setores carreiristas/petistas do PCdoB aproveitaram para fazer a guerra interna contra Sérgio Miranda, que foi suspenso das funções de direção e das reuniões da bancada, e depois não seria mais candidato da deputado federal, mas a estadual, de forma que não pudesse mais apertar o governo petista.

Diante da perspectiva de ser afastado da luta política nacional, Sérgio Miranda deixou o PCdoB. Tentou se reeleger pelo PDT, mas não conseguiu nem em 2006, nem em 2010. Em 2006, ainda teve apoio do PCB e de diversos outros setores da esquerda revolucionária. Em 2010, esse apoio diminuiu porque os socialistas/comunistas tiveram que continuar construindo suas organizações, inclusive no campo eleitoral, e o PDT obviamente não serve para isso.

Apesar de ser uma nota fúnebre, não podemos deixar de avaliar essa opção pelo PDT, que parecia então, para todos, ser a mais viável eleitoralmente. Claramente não deu certo! Não se comprovou verdade que um recuo na imagem ideológica corresponde a uma ampliação eleitoral. Pelo contrário, o que todo o episódio revelou foi que os militantes comunistas preferem ficar nos partidos comunistas, que os simpatizantes comunistas preferem que seus líderes fiquem nos partidos comunistas e que os eleitores comunistas gostam de votar nos partidos comunistas. Na verdade Sérgio Miranda sofreu de um fenômeno que atingiu também Leonel Brizola, o fundador do PDT. Conheci, nos partidos comunistas, grande porcentagem de brizolistas fanáticos, mas eles nunca seguiram Brizola para dentro do PDT. Pelo contrário, Brizola ficou isolado dentro de seu próprio partido.

É quase certo que no PSOL ou no PCB Sérgio Miranda também não se reelegesse nem em 2006, nem em 2010, mas ao menos teria vivido em um ambiente amigável e seria a liderança inconteste. No PDT Sérgio acabou cercado por capitalistas ricos, aliados tanto do PT quanto do PSDB. Se a opção pelo PDT visava não entrar no gueto, resultou em um gueto ainda mais apertado. O recuo ideológico, mesmo que só na imagem, não gerou nenhum ganho. A enorme capacidade de liderança de Sérgio Miranda ficou desperdiçada, enquanto a esquerda mineira permaneceu acéfala.

O camarada Sérgio Miranda é um dos nossos, mais um dos comunistas que nesse período de crise da esquerda andaram vagando por outras organizações, onde foram perseguidos, mas que agora podem voltar às fileiras do Partido Comunista.

Sérgio Miranda. Presente!

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