Após passado algum
tempo da campanha eleitoral, faz-se necessário um balanço, ligado à
continuação da luta da frente de esquerda SÃO JOÃO PARA O POVO
TRABALHADOR (PCB-PSTU-PSOL), continuação esta que foi o maior
objetivo da coligação ao lançar-se no processo eleitoral.
Era demasiado claro
que a frente de esquerda não se organizou somente para conquistar
cargos políticos nas eleições. Frequentemente, a disparidade das
forças entre nós e as outras coligações eleitoreiras colocavam em
xeque a participação da esquerda nesse processo eleitoral. Mas, no
abaixar da poeira, ficou evidente a necessidade que havia da esquerda
em ocupar os espaços que lhe cabe nas eleições. Fizemos isso:
ocupamos tais espaços, entramos nas discussões e disputamos a
consciência das massas. Aproveitamos que os espectadores voltaram
seus olhos, momentaneamente, para a política e fizemos a crítica ao
que temos, além de difundir nossos princípios. Dissemos verdades
que os engajados no sistema não podem dizer e apontamos caminhos,
mesmo que os nossos caminhos sigam, aparentemente, "contra a
correnteza" como já foi dito noutro artigo, ou seja, que
enfrentamos a opinião da classe dominante que intenta tornar-se
senso comum.
Fomos a única
coligação capaz de propôr reformas no sistema político. Mudar o
regime político anda meio fora de moda, mesmo com os liberais
tratando de achincalhar, por dentro, as instituições políticas.
Afirmamos que somente a iniciativa pública poderá capitanear
projetos e trazer os avanços que São João precisa, em oposição à
crença religiosa com o salvador mercado dos liberais. Somente com
militantes voluntários, acusamos o crescimento da frente e apontamos
uma boa ressonância na sociedade. Além disso, não nos vendemos ao
sistema, não aceitando financiamento de campanha de empresários,
banqueiros e mensaleiros e não nos corrompemos com alianças aos
atuais partidos sujos.
Do projeto
político, destacamos a proposta, comumente lançada pela esquerda,
em sentido da construção do poder popular, que difundiu-se e foi
encampada por outros setores da sociedade. Falamos da escolha do
secretário de educação pelos usuários da educação, via
sindicatos, associações e grêmios estudantis. Num debate fechado
entre os candidatos, promovido pelo SIND-UTE e o SINDSERV, tais
sindicatos colocaram a proposta numa carta de intenções que os
candidatos assinaram. Trata-se do reconhecimento que os políticos
profissionais não podem gerir melhor as secretarias que os usuários.
Foi colocado em questão a representação e a limitação da
participação popular, via eleições, com a tentativa de dar poder
aos sindicatos para a gestão política. Sabemos nós, que o
candidato eleito do PT não dará abertura para essa proposta e os
sindicatos não se empenharão em ver tal proposta realizada, posto
que são próximos do PT, atualmente. Mas foi importante ver uma
proposta de mudança, que questiona o formato do sistema, difundir
para além do campo da esquerda e tornar-se palpável junto da
opinião pública.
Sabemos ainda que o
candidato petista venceu as eleições com o discurso de direita, do
homem de gravata que, burocraticamente, tentará arrumar a
administração municipal. Discurso bem diferente da candidata
petista de Juiz de Fora, por exemplo. Essa última repetiu, inúmeras
vezes, a palavra “comunidade”, para contrapôr o discurso
engravatado do atual prefeito de lá. Quão diferente é a proposta
do PT, para diferentes municípios. Trata-se de projetos de poder e,
nisso, somente o pano de fundo em atender os anseios das elites,
contorna os planos desse partido. Em São João, o prefeito eleito
será pouco proveitoso para os projetos da esquerda, pois vimos os
embaraços em que este se colocou quando questionado sobre uma
política para a ampliação das esferas democráticas.
Para nós, o
processo eleitoral foi mais uma etapa para a acumulação política,
acima da perseguição pelo cargo em si. A frente de esquerda não se
comportou de modo meramente eleitoreiro e será tarefa mantermos
firmes a construção da organização para continuar as lutas na
cidade e se articular com os movimentos já existentes.
São João del-Rei
encontra-se no bojo da atual conjuntura da esquerda brasileira.
Embora não direcionamos as ações para ocupar cargos, porque há
muito que avançar na reorganização enquanto agrupamento político,
participamos da consolidação do campo de esquerda, a nível além
do municipal, em oposição ao petismo e a conciliação, à moda das
elites, entre as classes. Há de se acelerar o processo do
endireitamento do petismo, para que a esquerda volte a se reorganizar
e a demarcar, claramente, o seu campo de atuação. Será necessário
afirmar a cultura política da esquerda, em oposição ao petismo
falseador que, como agravante, têm conseguido cooptar os sindicatos,
estes que foram os espaços de luta e resistência em que a classe
trabalhadora apoiava-se, noutros tempos, para enfrentar os ataques
das elites.
A luta entre as
classes torna-se cotidiana na atuação dos sindicatos e movimentos
sociais. É necessário explicitar que o partido político é que
deve girar em torno dessas condicionantes e, libertos dos tempos de
eleições, ficará mais naturalizada as atuações da frente de
esquerda perante os espectadores. Em São João, o sindicato dos
metalúrgicos, por exemplo, aparece como referência nos processos de
enfrentamentos diretos da classe trabalhadora, como as greves de um
modo amplo. Aprofundar essa referência romperá com o campo
conciliador (importante destacar que isso se dá de cima pra baixo,
da elite sobre os trabalhadores) típico do petismo, afirmando o
horizonte da esquerda e, mesmo, alargando os espaços da sua atuação
combativa.
Noutro exemplo
disso, acompanhamos o processo eleitoral da chapa trabalhista do
METABASE, sindicato que tem como base Congonhas, Ouro Branco, Ouro
Preto e região. Engloba ainda o importante setor de mineração da
CSN em Congonhas. Lá, a chapa combativa da METABASE teve que
desarticular, através de denúncias, a chapa concorrente montada
pela patronal e que seria financiada indiretamente pela própria CSN,
por intermédio da CUT, central sindical do PT, que se destaca pelo
seu peleguismo. Grande vitória para a esquerda combativa, no
cotidiano das lutas de classes.
A esquerda avança
e como é natural, reorganiza-se, após sacudir-se do golpe dado
pelos sociais-democratas que, falando em nome dos trabalhadores e
agindo junto das elites, se propuseram a ocupar todos os campos
políticos. Porém, tal direção se desmascara e os espaços da
esquerda mostram-se novamente livres para serem ocupados. Faremos
isso, a passos firmes e responsáveis, aceitando, por vezes, que a
atmosfera nos foi desfavorável, como nessas eleições.
Entrementes, continuamos a não abandonar a ideologia da esquerda e a
não rebaixar os nossos programas, contribuindo, mesmo de fora das
instituições, para a formulação política voltada para os
trabalhadores e os excluídos do sistema que sustenta-se atualmente.
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