Balanço da campanha eleitoral - São João del-Rei, 2012


Após passado algum tempo da campanha eleitoral, faz-se necessário um balanço, ligado à continuação da luta da frente de esquerda SÃO JOÃO PARA O POVO TRABALHADOR (PCB-PSTU-PSOL), continuação esta que foi o maior objetivo da coligação ao lançar-se no processo eleitoral.

Era demasiado claro que a frente de esquerda não se organizou somente para conquistar cargos políticos nas eleições. Frequentemente, a disparidade das forças entre nós e as outras coligações eleitoreiras colocavam em xeque a participação da esquerda nesse processo eleitoral. Mas, no abaixar da poeira, ficou evidente a necessidade que havia da esquerda em ocupar os espaços que lhe cabe nas eleições. Fizemos isso: ocupamos tais espaços, entramos nas discussões e disputamos a consciência das massas. Aproveitamos que os espectadores voltaram seus olhos, momentaneamente, para a política e fizemos a crítica ao que temos, além de difundir nossos princípios. Dissemos verdades que os engajados no sistema não podem dizer e apontamos caminhos, mesmo que os nossos caminhos sigam, aparentemente, "contra a correnteza" como já foi dito noutro artigo, ou seja, que enfrentamos a opinião da classe dominante que intenta tornar-se senso comum.
Fomos a única coligação capaz de propôr reformas no sistema político. Mudar o regime político anda meio fora de moda, mesmo com os liberais tratando de achincalhar, por dentro, as instituições políticas. Afirmamos que somente a iniciativa pública poderá capitanear projetos e trazer os avanços que São João precisa, em oposição à crença religiosa com o salvador mercado dos liberais. Somente com militantes voluntários, acusamos o crescimento da frente e apontamos uma boa ressonância na sociedade. Além disso, não nos vendemos ao sistema, não aceitando financiamento de campanha de empresários, banqueiros e mensaleiros e não nos corrompemos com alianças aos atuais partidos sujos.
Do projeto político, destacamos a proposta, comumente lançada pela esquerda, em sentido da construção do poder popular, que difundiu-se e foi encampada por outros setores da sociedade. Falamos da escolha do secretário de educação pelos usuários da educação, via sindicatos, associações e grêmios estudantis. Num debate fechado entre os candidatos, promovido pelo SIND-UTE e o SINDSERV, tais sindicatos colocaram a proposta numa carta de intenções que os candidatos assinaram. Trata-se do reconhecimento que os políticos profissionais não podem gerir melhor as secretarias que os usuários. Foi colocado em questão a representação e a limitação da participação popular, via eleições, com a tentativa de dar poder aos sindicatos para a gestão política. Sabemos nós, que o candidato eleito do PT não dará abertura para essa proposta e os sindicatos não se empenharão em ver tal proposta realizada, posto que são próximos do PT, atualmente. Mas foi importante ver uma proposta de mudança, que questiona o formato do sistema, difundir para além do campo da esquerda e tornar-se palpável junto da opinião pública.
Sabemos ainda que o candidato petista venceu as eleições com o discurso de direita, do homem de gravata que, burocraticamente, tentará arrumar a administração municipal. Discurso bem diferente da candidata petista de Juiz de Fora, por exemplo. Essa última repetiu, inúmeras vezes, a palavra “comunidade”, para contrapôr o discurso engravatado do atual prefeito de lá. Quão diferente é a proposta do PT, para diferentes municípios. Trata-se de projetos de poder e, nisso, somente o pano de fundo em atender os anseios das elites, contorna os planos desse partido. Em São João, o prefeito eleito será pouco proveitoso para os projetos da esquerda, pois vimos os embaraços em que este se colocou quando questionado sobre uma política para a ampliação das esferas democráticas.
Para nós, o processo eleitoral foi mais uma etapa para a acumulação política, acima da perseguição pelo cargo em si. A frente de esquerda não se comportou de modo meramente eleitoreiro e será tarefa mantermos firmes a construção da organização para continuar as lutas na cidade e se articular com os movimentos já existentes.
São João del-Rei encontra-se no bojo da atual conjuntura da esquerda brasileira. Embora não direcionamos as ações para ocupar cargos, porque há muito que avançar na reorganização enquanto agrupamento político, participamos da consolidação do campo de esquerda, a nível além do municipal, em oposição ao petismo e a conciliação, à moda das elites, entre as classes. Há de se acelerar o processo do endireitamento do petismo, para que a esquerda volte a se reorganizar e a demarcar, claramente, o seu campo de atuação. Será necessário afirmar a cultura política da esquerda, em oposição ao petismo falseador que, como agravante, têm conseguido cooptar os sindicatos, estes que foram os espaços de luta e resistência em que a classe trabalhadora apoiava-se, noutros tempos, para enfrentar os ataques das elites.
A luta entre as classes torna-se cotidiana na atuação dos sindicatos e movimentos sociais. É necessário explicitar que o partido político é que deve girar em torno dessas condicionantes e, libertos dos tempos de eleições, ficará mais naturalizada as atuações da frente de esquerda perante os espectadores. Em São João, o sindicato dos metalúrgicos, por exemplo, aparece como referência nos processos de enfrentamentos diretos da classe trabalhadora, como as greves de um modo amplo. Aprofundar essa referência romperá com o campo conciliador (importante destacar que isso se dá de cima pra baixo, da elite sobre os trabalhadores) típico do petismo, afirmando o horizonte da esquerda e, mesmo, alargando os espaços da sua atuação combativa.
Noutro exemplo disso, acompanhamos o processo eleitoral da chapa trabalhista do METABASE, sindicato que tem como base Congonhas, Ouro Branco, Ouro Preto e região. Engloba ainda o importante setor de mineração da CSN em Congonhas. Lá, a chapa combativa da METABASE teve que desarticular, através de denúncias, a chapa concorrente montada pela patronal e que seria financiada indiretamente pela própria CSN, por intermédio da CUT, central sindical do PT, que se destaca pelo seu peleguismo. Grande vitória para a esquerda combativa, no cotidiano das lutas de classes.
A esquerda avança e como é natural, reorganiza-se, após sacudir-se do golpe dado pelos sociais-democratas que, falando em nome dos trabalhadores e agindo junto das elites, se propuseram a ocupar todos os campos políticos. Porém, tal direção se desmascara e os espaços da esquerda mostram-se novamente livres para serem ocupados. Faremos isso, a passos firmes e responsáveis, aceitando, por vezes, que a atmosfera nos foi desfavorável, como nessas eleições. Entrementes, continuamos a não abandonar a ideologia da esquerda e a não rebaixar os nossos programas, contribuindo, mesmo de fora das instituições, para a formulação política voltada para os trabalhadores e os excluídos do sistema que sustenta-se atualmente.

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