Sobre os benefícios da Faculdade de Medicina em São João del-Rei

Embora com nítidos fins eleitoreiros, o surgimento de um curso de medicina na UFSJ deve ser saudado por todos. Resolverá para São João del-Rei e região um problema enfrentado por todos os municípios do país, a falta de médicos e os correspondentes salários proibitivos exigidos pelos médicos para trabalharem, assim como sua recusa em cumprir horários.

Somente nos anos eleitorais alguma coisa é feita pelos políticos, já sabemos, e por isso eles desejam tanto aumentar os mandatos para 5 ou 6 anos, diminuindo as eleições, de forma a só trabalharem um ano em cada cinco ou seis, ao invés de um em cada quatro como são obrigados hoje.  Também por isso devemos defender mandatos menores e ainda interrompidos por plebiscitos revogatórios, de forma a manter os políticos constantemente em alerta e ativos.



Já há alguns anos as pessoas sensatas das mais variadas posições políticas compreendem que para libertar facilmente São João del-Rei da máfia branca que a parasita assim como à maioria das pequenas e médias cidades brasileiras só o surgimento de uma faculdade de medicina. A ascensão da Funrei à UFSJ fez crescer essa esperança entre os sanjoanenses, e quando o curso de medicina da UFSJ foi para Divinópolis circularam boatos de que se devia à influência dos médicos locais.

Fato é que, ao contrário do que defendem os médicos, o Brasil tem poucas faculdades de medicina, daí poucos médicos, fazendo sofrer sobretudo as regiões norte e nordeste, mas também as regiões mais ricas do país. Várias cidades, em regiões afastadas, não conseguem médicos nem por salários que para as médias salariais delas são extravagantes. Em São João del-Rei, por salários que são duas vezes maiores que os dos vereadores e secretários municipais, os médicos querem dar um número limitado de consultas por dia, não respeitando horários, e ameaçando pedir demissão. Já aconteceram mortes por falta de atendimento e por atendimento desleixado, que são resultado da certeza de que a demanda é muito maior que a oferta, tanto que as autoridades municipais precisam implorar pela permanência dos médicos, não podendo nem sonhar em discipliná-los.

Com a faculdade de medicina aqui, se o curso se iniciar em 2013, no muito em 2018 uma primeira turma precisará começar a fazer residência, ou seja, um estágio de dois ou três anos, correspondente a uma especialização, que os estudantes de medicina têm que fazer para se formarem. É possível que isso exija a criação de um Hospital Universitário, ou seja, federal e proibido de cobrar qualquer taxa, fora do controle de prefeitos e governadores, em outras palavras, com mais chances de funcionar bem. Naturalmente, um Hospital Universitário seria controlado pelos professores de medicina, o que é sempre muito melhor que ser controlado por indicados de prefeitos e governadores (leia-se ladrões, pois é do que se trata). Mas mesmo sem um Hospital Universitário os estudantes terão que fazer residência, enchendo a UPA, a Santa Casa e o Hospital de médicos.

Claro que permanecerão outros problemas. A concepção de medicina adotada provavelmente continuará não sendo preventiva, mas mercadológica, ou seja, deixar as doenças surgirem para curá-las e ter lucros. A mudança disso é difícil, depende tanto de uma luta dentro do curso de medicina, quanto da luta política municipal, estadual e nacional. Outro problema é a corrupção, agravada pelo controle dos prefeitos sobre os recursos da saúde, uma vez que os Conselho de Saúde não têm poder de fato nenhum, e dificilmente conseguem ser independentes dos prefeitos.

Sobre o uso político, embora seja tão vergonhoso como sempre, ao menos dessa vez não pode ser compartilhado pelos tucanos. O mérito é do governo federal, e quem está tentando capitalizá-lo é o reitor na UFSJ, que é mestre em aceitar que o governo crie aqui o curso que quiser. A política comunista deve ser a de sempre. Devemos apoiar a criação do curso e depois, quando ele começar sem laboratórios, sem professores, sem nada, devemos ajudar a organizar a luta para exigir da reitoria e do governo federal que tirem o escorpião do bolso e cumpram suas obrigações com tanta boa vontade como agora fazem propaganda.

Comentários

patricia torga disse…
Compartilho do artigo: a situação que vivemos na cidade é realmente esta e somos todos reféns dela. Nada como algo novo, audacioso, para dar esperança ao povo dessa cidade e uma boa lição aos que pensam que são capazes de prender o desenvolvimento local nos nós políticos que insistem em tecer em benefício próprio.
cecilio sessin disse…
MAGNÍFICO CONJURADOR
O SONHO DE SÃO JOÃO DEL-REI MATERIALIZA-SE, UM "BOOM" MÁGICO, QUANDO O SR. MAGNÍFICO REITOR DA UFSJ HELVÉCIO REIS TIRA DA CARTOLA A NOTÍCIA DA TÃO DESEJADA, DESDE JOAQUIM JOSÉ DA SILVA XAVIER, FACULDADE DE MEDICINA EM NOSSA CIDADE.
CUNHO ELEITOREIRO? NÃO INTERESSA, OU MELHOR, INTERESSA E MUITO, PORQUANTO SE TODO ATO OU INTENÇÃO ELEITOREIRA REALIZAR OS ANSEIOS MAIS RECÔNDITOS DE UMA COMUNIDADE, COMO SE FAZ AGORA, TOMARA QUE A MODA PEGUE. QUEM GANHA É O POVO, EM QUALQUER ÓTICA OU CIRCUNSTÂNCIA. POLÍTICA FAZ-SE ASSIM E ATRAVÉS DELA O POVO SE CONSAGRA EM UMA VERDADEIRA SOCIEDADE PRÓ-ATIVA, FASCINANDO-SE ENTRE DESEJOS E CONQUISTAS.
AGORA, CÁ PARA NÓS: FOI PRECISO UM CIDADÃO NÃO SÃO-JOANENSE PARA NOS HONRAR HISTORICAMENTE.
PARABÉNS Ó ILUSTRE SÃO-JOANENSE SR. HELVÉCIO REIS! FAÇO VOTOS QUE CONTINUE A PROVOCAR INTENÇÕES ELEITOREIRAS DESTE QUILATE, AGORA E SEMPRE!
Apesar de concordar apenas parcialmente com o texto, não farei maiores comentários, mas faço uma correção: a residência médica NÃO é obrigatória. O estudante de medicina se forma médico ao fim de 6 anos de curso (recebe seu diploma e pode fazer o seu registro em um conselho regional de medicina - CRM - e dessa forma estará habilitado a exercer a medicina) e fará a residência, se optar por ela. A residência é uma pós-graduação. Sim, ela é recomendada e considerada a melhor forma de especialização, porém não obrigatória.