Em 2010, tínhamos 84.404 habitantes, em 27.327 residências.
A renda per capita dessa população era de R$ 9.617,00 ao ano (menos que um
salário e meio), perdendo para três pequenas cidades vizinhas, Piedade do Rio
Grande, Nazareno e Madre Deus de Minas, porém o dobro de Santa Cruz de Minas,
onde portanto a renda per capita está abaixo do salário mínimo. Como em termos
econômicos Santa Cruz de Minas é um bairro de trabalhadores de São João del-Rei
e Tiradentes, podemos imaginar que tem a mesma realidade dos bairros de
trabalhadores dessas cidades. Os extremos são poucos, ou difíceis de
contabilizar. O IBGE encontrou, em 2010, 800 miseráveis, pessoas vivendo com
menos de um quarto de salário mínimo, e 64 pessoas cuja renda excedia 30
salários mínimos. Não é necessário muito discernimento para entender que
existem mais miseráveis e mais ricos, e que viver com um salário mínimo, que é
a regra, é viver sem liberdade para nada. Contudo, como se nota pela renda per
capita, São João del-Rei parece não ter muito o que distribuir.
Em um artigo anterior já tratamos um pouco da história
econômica de São João del-Rei. Vamos então observar como essa economia está.
Iniciemos pela entrada de recursos. Como a revolução industrial desnacionalizou
todas as economias, globalizando-as, nenhuma cidade produz quase nada do que
consome. Tudo vem de todo o mundo, embora em épocas diferentes um ou outro
canto do mundo se destaque como exportador, caso atual da China, de quem São
João del-Rei tem importado muito e crescentemente. Quase tudo o que os
sãojoaneses vestem, tudo o que dirigem, grande parte do que bebem e comem,
assim como a maior parte de seus materiais de construção, não têm origem em São
João del-Rei. Isso, claro, começou a acontecer no século XVIII e hoje é a
realidade do mundo quase inteiro, não é exceção, nem existe como imaginar mudar
isso. Então devemos nos perguntar, de onde vêm os recursos (as divisas, como se
diz para um país) para o consumo de 85 mil habitantes?
Se formos acreditar em tudo o que se escreve, teremos que
colocar as empresas metalúrgicas e mineradoras no topo da entrada de divisas em
São João del-Rei. Em 2008, em plena crise, depois de anos de quedas, elas
exportaram 52 milhões de dólares. Contudo, como são empresas multinacionais,
propriedades de acionistas do mundo inteiro, destacadamente dos EUA e Europa
Ocidental, esse dinheiro não fica aqui. O que fica em São João del-Rei são os
salários de cerca de 3 mil trabalhadores, quando muito 4 mil. Em impostos o que
essas empresas pagam é irrisório. Por exemplo, o ICMS, que vai para o governo
estadual (e quase nada volta), a mineração pagou 1 milhão e 600 mil em 2006, a
indústria pagou 2 milhões e 300 mil enquanto os comerciantes de São João
del-Rei, milhares de trabalhadores pobres, pagaram quase 7 milhões! Ou seja,
nem para aliviar a carga de impostos dos pequenos o que essas empresas pagam
não serve. De impostos municipais elas pagam no muito as mesmas tarifas que
qualquer morador pobre da mais pobre periferia, mas devem sempre conseguir
isenção com diferentes prefeitos. Então, na verdade, podemos lançar essas
empresas para terceiro ou quarto lugar na sustentação de São João del-Rei.
Pelo primeiro lugar disputam os aposentados e a prefeitura,
ambos por conta de recursos da União. Os aposentados eram 21.758 pessoas, que
receberam em 2011 um total de 25 milhões de reais por mês. A prefeitura por sua vez
recebe todo ano, só do Fundo de Amparo aos Municípios, mais de 20 milhões de
reais. De impostos, em 2010, o Governo Federal arrecadou em São João del-Rei
quase 58 milhões. Mas como vêm também da União os recursos que pagam os
professores e técnicos da UFSJ, que já são mais de mil (embora nem todos em São
João), e também os recursos que pagam os 736 soldados e oficiais do 11 BI,
assim como os recursos de diversos outros órgãos públicos, acreditamos que São
João recebe todo ano um pouco mais do que paga de impostos à União. Em outras
palavras, o governo federal, involuntariamente, todo ano envia o grosso do
dinheiro que circula em nossa economia e ao longo do mesmo ano o recolhe quase
todo em impostos. Se nossa economia fosse maior, a União tiraria mais do que
deixa aqui, certamente, e já devemos estranhar que se consiga arrancar quase 58
milhões de 84 mil habitantes cuja renda per capita beira o salário mínimo.
Disputando o terceiro lugar com as empresas de mineração e
metalurgia estão os cerca de 8 mil estudantes universitários que estudam na
UFSJ, dos quais ao menos a metade veio de outras cidades e mora aqui com recursos
vindos delas. Esses recursos têm um peso tão grande na economia de São João que
as férias e greves são lamentadas pelos comerciantes locais. Também os aluguéis
subiram em decorrência da chegada repentina de um grande número de estudantes,
o que embora resulte na entrada de recursos, encarece a vida dos trabalhadores.
O mercado imobiliário está aquecido, como se nota pelo fato de que em 2010
haviam 1.741 edificações sendo construídas.
Em quinto lugar vêm os recursos enviados pelo governo
estadual, que no entanto tirou daqui 20 milhões em 2010. São somente 550
professores ganhando mal e porcamente, cerca de 300 policiais militares, 122
policiais civis e 46 bombeiros. Existem uns poucos funcionários na Emater, no
UAI e outros órgãos.
Onde está o turismo? Os dados que conseguimos são de dez
anos atrás, 2002, mas mesmo que tenha dobrado de tamanho ainda não é o que
parece pela propaganda de alguns políticos. Existiam em 2002, em 43 hotéis e
pousadas, somando 878 leitos. Para comparar, Tiradentes tem cerca de 200 hotéis
e pensões.
É provável que o turismo tenha um peso menor na economia de
São João del-Rei que a produção de leite e laticínios, que em 2006 pagou quase
tanto ICMS ao governo estadual quanto a mineração. O rebanho bovino de São João
del-Rei é de cerca de 30 mil cabeças, o maior da região, ganhando de cidades
eminentemente rurais. O rebanho suíno é o segundo maior, com cerca de 4 mil
cabeças, perdendo para uma cidade pequena das proximidades, Lagoa Dourada, que
tem o dobro. Dos 812 estabelecimentos rurais que existiam há alguns anos, 80%
ou mais dedicavam-se quase somente ao gado. Existe agricultura em São João
del-Rei, de grande variedade de produtos, mas dadas as condições do terreno e a
fartura de água a criação de gado (e os laticínios) é bem mais atraente para a
maioria dos produtores rurais. Contudo, a produção rural da cidade atingiu 45
milhões, o que é menos de um terço da produção industrial, 164 milhões, que por
sua vez é cerca de um terço do valor registrado pelos serviços, 539 milhões. Os
laticínios são incluídos na produção industrial. A distribuição de terras
lembra a distribuição de renda. Em 1996, cerca de 700 produtores rurais tinham
terras entre 10 e 100 ha, uns 200 tinham menos de 10 ha, enquanto somente 7
tinham mais de 500 ha, e nenhum tinha mais de 2000 ha. Isso explica a
inexistência de movimentos de sem terras na região – não existem latifúndios a
serem ocupados.
Claro que a economia de São João del-Rei é bem mais do que
esses setores relacionados acima. Em 2010 existiam 19.837 trabalhadores
formais, espalhados por 2.954 empresas. Claro que sabemos que existem
concentrações de trabalhadores, sendo a maior a Prefeitura, seguida por algumas
indústrias metalúrgicas, enquanto muitas empresas não têm empregado nenhum, mas
a média está abaixo de 7 trabalhadores por empresa, revelando que existe um mar
de pequenos negócios, que se misturam com uma quantidade ainda maior de
profissionais autônomos. Metade dos trabalhadores concentra-se no comércio e em
serviços. Em todo lugar do mundo a tendência é do crescimento desses setores,
uma vez que há que se empregar as pessoas. Contudo, deve-se notar que quase
nunca o pequeno comércio e os serviços geram divisas, ou seja, eles fazem a
circulação do dinheiro que já está em São João. São portanto limitados pela
pobreza reinante, ou seja, quanto mais a economia da cidade crescer, sobretudo
se essa riqueza melhorar os rendimentos dos trabalhadores, em maior número
podem existir pequenos comércios e prestadores de serviços. Ainda em outras
palavras, é um setor grande, mas não de ponta, pelo contrário, é arrastado
pelos outros. Foi-se o tempo em que o comércio de São João era voltado para o
Rio de Janeiro e para as Minas Gerais. Hoje em dia nosso comércio é voltado
quase todo somente para os próprios moradores, reduzindo-se praticamente a
prestação de um serviço para estes. Não temos números para as dezenas de
categorias que se incluem entre serviços e comércio, muito menos nos casos
informais, e em alguns casos dificilmente teremos, pois não existem registros,
como no caso de pedreiros, jardineiros, pintores etc. mas temos alguns exemplos
interessantes. A OAB de São João del-Rei tem em seu site uma lista com mais de
300 advogados. Em 2000, eram 167 médicos e 98 dentistas. Existem na cidade 133
micro-ônibus, que devem ser quase todos de profissionais autônomos. Caminhões
são mais de mil, de forma que podemos supor que existam ao menos 500
caminhoneiros autônomos.
Sobre a informalidade, se os aposentados são 21 mil, os
trabalhadores formais 20 mil e os estudantes abaixo da idade de trabalhar são
16 mil, temos 57 mil pessoas, e para 84 mil estão faltando 27 mil, que portanto
se dividem entre o desemprego, o sub-emprego e a dependência de familiares.
Temos um panorama do aporte de recursos para a cidade.
Confirma em parte o que já defendemos em artigo anterior. As possibilidades de
investimentos de fora, públicos ou privados, sempre existem, mas não estão sob
nosso controle, não podemos contar com isso, e muitas vezes não resultam em
nada de bom, como no caso dessas empresas que arrancam nossos minérios, poluem
nossa cidade, adoecem nossos trabalhadores, exportam milhões e não deixam
dinheiro nenhum aqui. É a Prefeitura Municipal que na verdade mais tem recursos
disponíveis para investir, incentivar, melhorar a vida do povo. Em 2010, a
Prefeitura arrecadou 67 milhões, em 2011, 78 milhões! Onze milhões a mais de um
ano para outro e pode-se dizer que a Prefeitura não tem dinheiro para investir?
Somente os cargos de confiança da Prefeitura são 300, e os salários do
prefeito, do vice, dos secretários e diretores são exagerados. Todo ano é gasto
muito dinheiro com asfalto, pedras portuguesas e outros desperdícios. Em nossa opinião,
a Prefeitura tem dinheiro de sobra, e pode ter mais, se conseguir cobrar algum
imposto das empresas mineradoras e metalúrgicas que exportam nossas riquezas.
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