DCE-UFSJ : O plebiscito que está demorando

Em 2005, quando foi aprovado o estatuto que eu, Alex Lombello Amaral, escrevi para o DCE-UFSJ, eu esperava um plebiscito. O plebiscito era na verdade o que eu mais queria! O debate aberto e duradouro entre duas propostas diferentes de democracia, a dominante e uma proposta nova, espalhando-se por toda uma Universidade. Quando a Assembléia que aprovou o estatuto não julgou necessário convocar um plebiscito, eu me confortei com a crença de que no mesmo ano o partido político que tinha perdido o comitê eleitoral forçaria um plebiscito. Que ilusão ! Só agora, passados quase oito anos, eles se lembraram dessa exigência óbvia, um plebiscito, e como não estão conseguindo arrancá-lo, resolvi dar-lhes uma força e, eu mesmo, autor e defensor convicto do estatuto atual, defender o plebiscito.



Sim, as entidades de base podem perder o poder que têm e o DCE pode voltar a ser um comitê eleitoral de algum partido. Mas se for esse o nível de compreensão da maioria dos estudantes, então será essa a experiência pela qual precisarão passar, o aparelhamento eleitoral, para crescerem. Ou seja, devemos defender o poder das bases, mas não podemos impô-lo. Aliás, só a defesa sem imposição corresponde ao nosso objetivo. Queremos que as pessoas aprendam, porque não nos interessa somente que um DCE seja livre de parasitas, mas que a sociedade inteira se livre de parasitas semelhantes.

Se enfim surgiu a reivindicação de um plebiscito, é nossa chance, e desperdiçá-la é um crime. O pior que pode acontecer é o poder das entidades de base perder, e então convocariam um congresso estatuinte e devolveriam o controle aos partidos políticos por meio de uma eleição direta. O Partido Comunista, no entanto, continuaria defendendo o poder das entidades de base, formaria chapas exclusivamente com essa bandeira, um dia venceria, e devolveria o poder às entidades de base. Ou seja, simplesmente mudaríamos de tática. Cremos que as Brigadas Populares seguiriam essa mesma política, de forma que não é mais somente uma organização nacional, agora são duas defendendo a política correta.

Por outro lado, se o poder das entidades de base vencer, o país inteiro saberá, pois daremos ampla divulgação a todo o processo em todos os espaços políticos da internet. A pedra de toque, mais que isso, o próprio encanto da democracia capitalista, a eleição direta, terá sido derrotada em plebiscito entre universitários de São João del-Rei, Divinópolis, Ouro Branco e Sete Lagoas. Essa vitória animaria o movimento universitário do país inteiro!

Vencendo ou perdendo, enfim acontecerão os debates abertos dos quais os defensores das eleições diretas têm fugido por quase oito anos. Todos os estudantes, professores e técnicos, e até membros da comunidade externa de diversas cidades, verão as faixas, os adesivos, os panfletos, e muitos assistirão aos debates, que hoje em dia podem ser filmados e colocados na Internet. Todos aprenderão, vença o que vencer, pois se aprenderem com os debates, votarão pelas entidades de base, e se votarem pelas eleições diretas, aprenderão com o erro, sofrendo os resultados.

O plebiscito seria bom para os próprios militantes que apoiam convictamente o poder das entidades de base afinarem seus argumentos. Muitos desses estudantes apoiam porque participam, constatam praticamente o poder que têm, e outros apoiam pelos resultados, porque desde que as entidades de base assumiram o DCE nunca mais este foi um comitê eleitoral, nem se vendeu, nem se fechou, nem excluiu etc. Em outras palavras, o apoio é resoluto, mas ainda não é completamente racional. O debate, a necessidade de defender o poder das entidades de base desenvolverá os argumentos.

Ser contra o debate a respeito das eleições diretas aqui e ser contra esse debate em outras Universidades é a mesma coisa, é o mesmo medo, é o mesmo erro. Os estudantes da UNB elegeram uma chapa para entregar o poder ao Conselho de CAs, e na UERJ articula-se uma chapa com o mesmo fim. Instigando o debate aqui nós estaríamos apoiando-os, pois na era da internet esse debate não será local.

É natural que os militantes estudantis da UFSJ, que só podem defender seu movimento e temer que ele volte a ser parasitado como são os DCEs de todo o país, nunca tenham convocado o plebiscito. Na visão deles, o plebiscito só pode ser um risco, uma chance para os parasitas voltarem. Contudo, trata-se do contrário, o mundo é dos parasitas, que por meio das TVs, escolas, igrejas, do senso comum, mantêm a crença nas eleições diretas, tão necessária a eles como no passado foi necessária aos reis a crença na origem divina dos poderes reais. TODAS as pessoas, antes de conhecerem outra proposta, são defensoras das eleições diretas, assim como outrora acreditaram na origem divina do poder dos reis. Portanto, com o plebiscito, somente o nosso lado tem terreno a ganhar, pois temos uma massa de pessoas virgens para nossa propaganda. Os que já adotaram nossa posição, ao contrário, não voltarão atrás, não recuarão. Ou seja, de fato os defensores das eleições diretas é que estarão na defensiva, até porque somente nós temos novidades a dizer. O outro lado só tem a repetir as propagandas do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Peço portanto aos militantes do Partido Comunista que estudam na UFSJ para defenderem o plebiscito, um plebiscito que dure meses, com debates públicos e filmados em todos os campi e em todos os turnos, e que uma das opções seja, claramente para assim podermos derrotá-la, a "eleição direta", e então, quando o Conselho de Entidades de Base aprovar o plebiscito que colocará em questão seu próprio poder, se preparem para combater, dessa vez tendo uma boa desculpa, o mito mais caro ao capitalismo, as eleições diretas, que precisamos desmascarar, ou todo nosso trabalho é em vão !

Mais do autor sobre o assunto: Reflexões sobre 5 anos de política estudantil.

Comentários

É uma ótima ideia, e o texto ficou muito bem escrito.
PCB Ipatinga disse…
Não sei se ainda temos militantes do PCB ou do PC do B, os que tínhamos e que conhecia, ou colaram grau ou foram para a social democracia defender o que o PC do B já defende, a menos que eu esteja enganado e tenham militantes aí que não conheço.

Enfim, se tiver, para os comunistas principalmente, dois livrinhos básicos antes de fazer qualquer coisa:

- O Estado e a Revolução do Lênin;
- Conselhos de Fábrica do Granmci e Amedeo Bodiga.

Alex Roberto - BH
Camarada Alex Roberto, acho que você esqueceu de tomar seu remédio. Sobre as obras sugeridas, nós sempre as estudamos por aqui.
Hahahahahahahahaha... Esses camaradas...