Sobre os resultados eleitorais dos partidos brasileiros de esquerda ao governo Lula

Acabo de conseguir resultados mais detalhados (mas ainda não o mapa de nossos votos na legenda, que certamente são os mais interessantes), e minha cabeça ainda está fervilhando. Para não fazer uma análise otimista (coisa inútil e anestesiante) tenho que lutar contra a pressão das análises ufanistas e contra minha própria alegria em constatar que afinal a articulação TV-Internet, que era só com o que contavamos, não fracassou por completo, como a princípio imaginei. É como um aparelho novo, um original, que funciona pela primeira vez, obviamente ainda cheio de imperfeições. Já incomodou os adversários, motivando em Minas Gerais seis processos vindos dos advogados de Aécio e Anastásia, em São Paulo um processo vindo de Serra e uma cassação das candidaturas de motivações políticas, conforme se pode ser mais em http://pcb-campinas.blogspot.com/2010/10/nota-da-cpr-sp-sobre-apuracao-de-votos.html .

Então, para nos livrarmos desse otimismo, expliquemos logo: Nossos votos estão espalhados por muito mais cidades do que atingimos com nossos militantes e contatos! Ou seja, o dupla TV-Internet, em conjunto ou não (impossível saber), ampliou nosso leque de ação. Em 60 cidades de Minas Gerais Ivan Pinheiro teve dez ou mais votos e Fabinho teve isso em 87 municípios, um dos candidatos a deputado federal teve quatro quintos de seus votos espalhados em quase 200 cidades, sendo que só enviou material para menos de ciquenta, o candidato ao Senado, Rafael Pimenta, teve mais de cem votos em 27 cidades, em metade das quais o Partido não existe, e quando tivermos acesso aos detalhes dos votos de legenda é bem provável que estejam igualmente espalhados. Os programas de TV se foram, mas a Internet permanece.

Retornemos, porém, à avaliação realista e geral (pois até agora nos restringimos ao nosso Partido, o PCB, para o qual de qualquer forma valeu a pena lançar candidaturas) dos resultados, sem ufanismos nem derrotismos, mas a esquerda não se saiu bem. A direita, que se fez de morta, permitindo até que publicássemos notas desestimulando o voto “útil”, afinal venceu – conquistou o segundo turno, elegeu governadores em São Paulo e Minas no primeiro, e conseguiu criar uma outra terceira alternativa que não a oposição de esquerda, mas os verdes desbotados e atucanados, de forma que o desestimulo ao voto útil não veio para nenhuma das quatro candidaturas realmente de esquerda.

Os votos somados de PSOL, PSTU, PCB e PCO não somaram 1% dos votos válidos, que estão longe de ser todos, pois a abstenção atinge 18% do eleitorado e os brancos e nulos somam 9%, passando a soma de um quarto do eleitorado. Em Minas Gerais, a soma dos votos dos candidatos a deputados desses quatro partidos não dariam para eleger nem um só deputado federal.

Não é suficiente culpar por isso o poder financeiro, contra o qual sempre lutamos em todo o mundo, tendo em alguns lugares e mesmo no Brasil do século XX resultados muito melhores. Essas eleições são sim movidas a dinheiro, mas nossos votos são muito mais baratos que os votos de direita, e qualquer luta política sob o capitalismo, não só a eleitoral, é movida a dinheiro, e essa era a mesma realidade quando explodiram as revoluções proletárias todas desde a Comuna de 1871.

Temos que culpar:

a ) nosso despreparo, nossa falta de recursos, nosso amadorismo, nossa desorganização;

b ) nossa incapacidade de união ou de fechar outras alianças;

c ) nosso discurso voltado para nós mesmos.

Esse último ponto é crucial. Nessa eleição falamos para uma minoria que já pensa como nós, e foi isso que nossos votos representaram. Precisamos colher os ganhos organizativos disso, mas nas próximas eleições precisamos ser mais ofensivos e ousados, ou seja, temos que propor o que precisamos propor, mas de forma concreta, exemplificada, desenhada sempre que possível.

Sem fechar alianças, sem unirmos forças, não precisamos nem lutar. O eleitorado nos puniu por nossa desunião, claramente, pois nossa aliança em 2006 teve 8% dos votos, e nossas candidaturas separadas agora só tiveram 1%. A união nos daria ganhos de escala, além de simpatia do eleitorado de esquerda. A proposta do PCB de uma frente anti-capitalista é uma necessidade indiscutível, mas pode ter o nome que quiser. Parece que a Consulta deseja Assembléia Popular, e certamente o PSTU prefere outro nome, e certas tendências do PSOL também devem ter propostas. Nós devemos aceitar qualquer um. Mas claro, devemos saber que a reedição da Frente de Esquerda, tenha o nome que tiver, e mesmo que aglutine alguns movimentos sociais, ainda é uma aliança muito restrita.

Mas com ou sem união, e por mais que refinemos nosso discurso, sem existirmos realmente no país, sem termos jornais circulando entre centenas de milhares de pessoas, sem estarmos enraizados na sociedade, sem planejamento e preparação bem anteriores, não temos chance nenhuma de fazer nada, pois os eleitores só de Minas Gerais são 14 milhões.

Deixemos portanto a análise das esquerdas em geral de lado e voltemos para o Partido, que precisa partir para uma ofensiva organizativa imediata, colhendo os frutos da campanha. Como toda colheita, se não a fizermos na época certa ela se perde. Ao mesmo tempo, é necessário fazer o trabalho de formação política, de finanças, de propaganda com todos os novos camaradas, e ajudarmos os que estiverem sozinhos em suas pequenas cidades, que é o que Minas mais tem.

Como fazer todos esses trabalhos de uma vez só se ainda nem acabamos de resolver as burocracias eleitorais? Se temos que lutar para que nossos votos sejam divulgados em São Paulo, contra os tucanos que pretendem se reapoderar do país etc.? O que fazer para resolver esses problemas todos?

Temos que fazer nosso jornal. O jornal faz a propaganda, a formação, ajuda dos camaradas isolados em qualquer lugar, é a arma mais significativa em qualquer luta, e se custeará, e quando estiver funcionando bem ainda resultará em finanças para o Partido.

A maneira de existir esse jornal e ele fazer finanças, é o seguinte - Cada célula receberá no mínimo cem exemplares, pelos quais contribuirá com R$ 25,00. A célula que precisar de duzentos exemplares contribuirá com R$ 50,00 e assim por diante. Cada célula escolherá quantos jornais receberá e como arranjará a contribuição, aliás irrisória para uma célula inteira. Assim, enquanto nossa tiragem for de 3 mil exemplares, o Partido ganhará R$ 100,00 por edição. Quando for de 5 mil exemplares, supondo então um gasto de R$ 200,00 com Correio, ainda sobrarão para o Partido R$ 300,00. Quando a tiragem chegar a 10 mil exemplares, o Partido ficará com quase R$ 1.000,00 por edição, enquanto nenhum idiota resolver sufocar as bases com edições em excesso.

Esse é o cálculo para um jornal tamanho A2, ou seja, de uns 43 cm de altura e 63 cm de largura, dobrado ao meio, ou seja, com 4 paginas grandes.

A Internet nos ajudará a fazer esse jornal e esse jornal nos ajudará a divulgar nossas páginas na Internet.

Como se compreende com facilidade, para funcionar um jornal desses as bases terão que reconhecê-lo como o próprio jornal. Por isso, não me atrevo a ditar suas regras editoriais. Aguardo, ao mesmo tempo, artigos e sugestões de regras.   

Comentários

Camaradas,
Boa análise sobre o "novo aparelho" TV-Internet. Esta é uma das facilidades proporcionadas pelas candidaturas próprias, diante das inúmeras dificuldades impostas.
Uma boa análise que serve de ponto de partida para nossa necessária avaliação sobre a participação do PCB no processo eleitoral.
Apenas para ciência, informo que alguns dados eleitorais já estão disponíveis. No blog pcb-uberaba, por exemplo, pode ser vista a contribuição do camarada Tito, de Franca, que fez um levantamento detalhado sobre os resultados eleitorais do partido no país.
Eis o link, caso queriam dar uma olhada:
http://pcb-uberaba.blogspot.com/2010/10/resultados-eleitorais-do-pcb-no-brasil.html
Aproveito também a oportunidade para solicitar a inclusão do link do nosso blog em Uberaba, uma vez que ele já se encontra no Expresso Vermelho e na página oficial do PCB.
Saudações Comunistas,
Clayton
Uberaba/MG
Revistacidadesol disse…
Oi, Alex. Desta campanha, verifiquei o seguinte: a enorme importância política da indústria cultural. Enquanto agora veremos Romário pedindo um aparte ao Tiririca, Bonifácio Andrada, dono da UNIPAC, não estará lá.

É preciso debruçar-se sobre o seguinte: essas pessoas tinham somente uma imagem, algumas eram subcelebridades e jogadores em fim de carreira. O ativo que elas tinha é uma imagem e a imagem conhecida tem enorme peso nesse tipo de campanha.

Já a participação de Plínio Arruda Sampaio, que na minha opinião ganhou todos os debates, inclusive na Globo, onde foi aplaudido de modo a interromper a fala do reaça William Bonner Simpson (foi a glória!) não bastou para que obtivesse nem um por cento.

E olha que ele apertou Marina e Dilma inúmeras vezes com perguntas difíceis que elas claramente tiveram dificuldades para responder, por vezes gaguejando, e fez com que Levy Felyx, candidato da direita independente, passasse a atacá-lo indiretamente como representante das elites e Eymael imitasse seu procedimento na redes sociais.

Se o conteúdo e a participação em espaços privilegiados não faz com que alguém ganhe votação significativa, é porque o público está ligado apenas à imagem e ignora o conteúdo. E no imaginário do público, pregou-se a imagem de "velho doido", "palhaço", que a imprensa codificou e disseminou na Veja, p. ex.

Abraços do camarada Lúcio Jr.
J.L.Tejo disse…
ALex, pertinente colocar como culpado do "fracasso" da esquerda também o governo Lula.

Como é típico do bonapartismo, o governo Lula se faz de "mãe de todos", o grande árbitro da nação. Ao mesmo tempo em que erige os ruralistas a heróis, vai no MST e coloca bonezinho. Vai assim cooptando, enganando, seduzindo, de modo que haja quem enxergue em Lula a própria esquerda, apesar do próprio já ter dito que "quem é esquerda tem problema". Bolsas-famílias e outras medidas populistas são armas antigas do bonapartismo. Tá tudo lá no 18 Brumário.

Assim, a esquerda propriamente dita -PCB, PSTU, PCO, PSOL- perde a ligação com as massas, seduzidas que estão pelo lulismo.

Mas as reformas trabalhistas vão começar, o capital especulativo vai continuar lucrando, até o momento da situação insustentável. A vanguarda deve se manter portanto alerta, se organizar, trabalhar no agitprop. Uma hora a maré histórica faz uma viragem. E o bonapartismo será desmascarado.
Revistacidadesol disse…
Oi, Tejo e Alex.

Um amigo meu economista analisa que o centro do capitalismo, Europa e USA, não se contentará em amargar o pior da crise. A tendência será passarem a conta para o BRIC e para os mais pobres.