Séria incorreção de tradução em uma obra de Marx e uma de Lênin no Brasil

Nos livros Guerra Civil em França (Karl Marx, 1871) e O Estado e a Revolução (Lênin, 1917), que cita exatamente o trecho mal traduzido do primeiro, existe um erro de tradução que adultera um assunto importante em ambas as obras. Acontece que o livro de Marx não trata de qualquer guerra civil, mas da guerra de extermínio movida contra a Comuna de Paris.

Em 1871, como o imperador Napoleão III tinha sido aprisionado pelos exércitos alemães foi proclamada uma República, para lutar pela soberania da França. Mas como o governo provisório dessa República se rendeu ao invasor alemão, o povo de Paris criou outra República, a mais democrática que já existiu na França e talvez no mundo. Uma das características da Comuna, ou seja, dessa nova forma de governo, era que todos os deputados, todos os governantes, todos os funcionários públicos, eram destituíveis pelos seus eleitores, tinham seus mandatos revogáveis, eram removíveis, portanto.

Todas as traduções do mundo, e para o que nos interessa como prova, todas as traduções de línguas latinas, informam ao leitor que todos os mandatos eram revogáveis, mas as traduções brasileiras, uma de vinte ou trinta anos atrás, da Global, e outra de menos de cinco, da Expressão Popular, usam o termo "amovíveis", que em meu humilde parecer significa exatamente o contrário! De fato é um termo que no passado foi usado como sinônimo de "revogabilidade", mas parece ser o contrário.

Ora, essa não era uma característica qualquer da Comuna de Paris, mas parte de sua alma, e na verdade está sempre presente nos movimentos políticos do povo trabalhador, como no caso dos ingleses Cartistas, que pediam eleições anuais, ou no caso dos Soviets, em que havia igualmente a revogabilidade, assim como nas atuais constituições cubana, venezuelana e boliviana, de cantões da Suíça e estados dos EUA.

Trata-se do direito de enfiar o pé no traseiro dos politiqueiros traidores, um direito sagrado, que nós comunistas defendemos para o povo e que só pode ser lei em qualquer lugar civilizado.

Ao encontrar essa nova tradução incorreta, em um livro que ainda é distribuído, me vi obrigado a publicar essa nota. Pode ser pedantismo, mas é necessário.

Comentários

Guizo Vermelho disse…
Vale a pena colocar sempre em discussão o avanço representado pelo mandato revogável.
Revistacidadesol disse…
Alex, tem um recurso chamado Linkwithin que é bem interessante, pois permite que ao observarmos um post, possamos ir a outros anteriores. Meu blog tem e seria legal se vc colocasse no seu.

Eu queria voltar àquela discussão de como será a revolução. Tem um filme que acabou de ver que bem que poderia ser passado em uma sessão de Cineclube por vcs -- e que vou tentar passar aqui, pois obtive ele na web: A Chinesa, de Godard.

Nele é apresentado um grupo de estudantes tentando formar uma célula maoísta na França de 1967.

E é ilustrada a concepção de Mao da revolução, que para ele não é um banquete nem obra de arte nem pode ser feita com discriçaõ e elegância e sim seria uma insurreição violenta onde uma classe derruba a outra.

Em outro momento, aparece o Omar Diop, estudante de Filosofia. E ele coloca justamente o q vc disse: uma ausência de revolução nunca pode ser uma revolução.
Abs do Lúcio Jr.