A NECESSIDADE DA LUTA IDEOLÓGICA E CULTURAL: COMO ESTABELECER UMA CONTRA-HEGEMONIA ANTI-CAPITALISTA?

Já passadas duas décadas da queda do Leste Europeu vemos que, do ponto de vista cultural, o capitalismo ainda consegue propagar os valores individualistas nas relações sociais de produção na humanidade. O capitalismo mantém a luta daqueles que resistem em um plano econômico- corporativo, sendo a resistência política e o apontamento de um novo projeto de sociedade algo bastante distante da esquerda brasileira. Nesse sentido, quais seriam os caminhos a serem trilhados para nossa luta ideológica? Como fazer com que as necessidades econômicas do povo se transformem em indignação ao sistema vigente? Enfim, como fazer com que o marxismo se torne uma teoria que seja discutida pela opinião pública em geral?
Em “Que Fazer?” Lênin tentou responder a essa série de questões no início do século XX. O objetivo em organizar o partido social-democrata no sentido de ampliar as discussões teóricas foi, para o líder bolchevique, o passo inicial para a transformação de sua sociedade; “sem teoria não há movimento revolucionário”, dizia ele. A conjuntura atual faz com que voltemos a analisar tal obra; a queda da URSS fez com que a esquerda em geral discutisse teoricamente as razões pelas quais a Revolução de Outubro entrasse em colapso em 1989.
Debatendo com os populistas russos, Lênin se aliou ao “marxismo legal” com o intuito de intensificar a luta teórica e fazer com que as massas pudessem discutir com mais amplitude a teoria marxista. Entretanto, jamais foi proposto por tal revolucionário o dogmatismo e a cristalização do marxismo, algo que o diferenciou dos “economicistas”, a vanguarda dos “marxistas legais” da época. Fazer concessões teóricas caminhava sempre para uma conciliação entre classes antagônicas que não favoreciam o processo revolucionário. A abertura do campo de debates surge, portanto, como ferramenta fundamental para que o estágio econômico-corporativo, através de um amplo debate sobre o marxismo e de um trabalho massificado de imprensa , pudesse ser elevado ao grau de luta política.
Atualmente no Brasil, o marxismo é conhecido por uma ampla camada de intelectuais e entrou com força nas universidades. Porém, com todo o acúmulo dos processos históricos, a ciência do proletariado é vista como algo ultrapassado no senso comum. Apesar de tal ciência ter de encarar novos desafios históricos e ter se tornado mais complexa, ela é compartilhada ainda entre poucos. Em São João del-Rei, por exemplo existem três partidos marxistas que, se somados, não passam de uma dezena de indivíduos. No DCE UFSJ tal teoria ainda não é discutida com mais intensidade, e nos sindicatos os programas de formação política são secundários. Enfim, os limites da discussão teórica são semelhantes àqueles em que Lênin teve de conviver, no qual o marxismo é restrito a poucas cabeças “iluminadas”. Mas diferencia-se devido ao processo histórico pós- URSS e da Guerra Fria, onde os comunistas ainda tem que responder a uma série de questões recentes sobre as experiências socialistas em âmbito global.
Sugerimos uma leitura leninista quanto à profissionalização da imprensa revolucionária e que todos os movimentos de luta intensifiquem sua preocupação em relação à comunicação entre as massas. O trabalho intelectual é elemento fundamental para o avanço da revolução socialista em nosso país. Só assim difundiremos nossa visão de mundo e de valor, contrárias ao individualismo defendido pela burguesia.

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