Nota da União da Juventude Comunista e do Movimento Universidade Popular sobre a eleição do DCE-UFMG de 2011


Superar o paradigma das eleições diretas e construir o poder pelas entidades de base

A União da Juventude Comunista (UJC) e o Movimento Universidade Popular (MUP) vem a público trazer sua contribuição à análise da eleição do DCE da UFMG que aconteceu no mês de novembro de 2011. Antes de prosseguirmos, é importante trazer ao leitor dessa nota uma importante informação: No ano de 2010 a UJC compôs a chapa 03, Todo Poder ao C.A.´s e D.A.´s, que apresentou um avançado programa, questionando a falsa democracia por trás das eleições diretas e debatendo a crise dos métodos pelos quais parte da esquerda vem atuando no movimento estudantil nas últimas décadas. Chamamos os estudantes a discutir modelos mais avançados de organizar um DCE, muito além das capitalistas eleições diretas e das crises de direção. Enfim, em 2010 propomos a discussão uma nova concepção de movimento estudantil (M.E). Politicamente saímos vitoriosos do processo, porém as barreiras impostas pelas eleições diretas (recursos humanos e financeiros) impossibilitaram um debate maior em todos os espaços da universidade.

Com um propósito claro de defesa de uma educação pública, gratuita e de qualidade, por maiores investimentos para a educação pública, por mais democracia na entidade central dos estudantes da UFMG e pela total independência em relação à Reitoria e ao Governo Federal, compomos junto com outras forças politicas e estudantes independentes a Chapa 1*, Há Quem Sambe Diferente. Novamente chamamos a atenção para uma das principais pautas do programa da chapa 03 em 2011: O Conselho de D.A.´s e C.A.´s seria a instância máxima de deliberação do DCE-UFMG.

A chapa 01* foi a única a levar aos estudantes o plebiscito por 10% do PIB para a educação, que se desenvolve nacionalmente. Elevamos o debate na universidade e, de fato, houve uma grande discussão sobre a educação e universidade que temos e a que queremos. Por 149 votos de diferença, perdermos nas urnas, mas vencemos ao trazer um debate qualificado que, acreditamos, tenha grandes chances de conquistar mentes e corações para uma universidade de novo tipo e uma sociedade mais justa e igualitária.

Não poderíamos deixar de citar a forma como foi conduzida a gestão “Voz Ativa”, que teve fez aquilo que o movimento estudantil mais abomina: não oferecer espaços democráticos para a pluralidade de ideias. Pelo contrário, vimos reuniões fechadas, informações imprecisas ou inverdades sobre vários fatos. Soma-se ainda a falta de prestação de contas, e o total desrespeito ao Conselho de DA´s e CA´s, ferindo a soberania e ignorando as deliberações do mesmo.

Aquilo que discutimos em 2010 se concretizou em 2011. O problema do DCE UFMG não se resume a uma simples crise de direção (vide as quatro últimas gestões da entidade, ambas de grupos diferentes), as eleições diretas, o aparelhamento da entidade, ou a autoritária gestão da “Voz Ativa” que semeou o campo para o florescimento de uma chapa como a “ONDA”.

 A ascensão do discurso de direita sob o mito do apartidarismo

A chapa Onda, formada por membros de diferentes matizes ideológicas, mas com um discurso de direita e práticas que fomentam a despolitização dos estudantes, soube explorar muito bem as redes sociais e a alienação de muitos estudantes, conseguiu um vácuo para desmoralizar a já desmoralizada eleição direta. E fez isso da pior forma possível: ao invés de discutir propostas, distribuiu algodão-doce, fez um showmício no bandejão, propôs “sexo grátis” e tudo isso sob um discurso machista e de perseguição às organizações politicas, colocando essas como únicas responsáveis pelos erros no movimento estudantil da UFMG. Que ironia! Na mesma UFMG que nos anos 70 e 80 lutou pela livre organização politica, se viu em 2011 uma caça as organizações politicas e sublevação do apartidarismo.

De fato, muitos dos votos que foram para a chapa Onda, foram votos de protesto (Tiririca?) ao fato de como parte da esquerda está se portando na universidade. Foram também votos de amigos, que não pararam para refletir nem um minuto sobre o que estavam fazendo e a quem estavam servindo. Não acharam nem um pouco estranho que nesse pleito, chamou a atenção o fato de que, diferentemente de outras chapas que nos anos anteriores propagaram o antipartidarismo, o programa da chapa “Onda” ganhou considerável espaço em grandes veículos de comunicação, tais como Veja, Estadão e Estado de Minas. Veículos, digam-se de passagem, notadamente conhecidos por seu enviesamento ideológico.

Nas entrelinhas, o grupo Onda tomou alguns posicionamentos políticos. Primeiro, e talvez o mais grave, foi tentar desvincular os problemas externos da universidade com os problemas daqui. Nesse prisma, a luta pelos 10% do PIB para a educação é uma “utopia”, a greve dos professores é somente dos professores. Como se a UFMG fosse uma cúpula à margem do restante da sociedade, onde somente os estudantes estão aptos a debater os assuntos referentes à UFMG. Nós da União da Juventude Comunista entendemos que o debate sobre educação é central e aberto às contribuições dos movimentos sociais e do restante da sociedade.
  
A União da Juventude Comunista e sua concepção de Universidade
  
Na ótica da União da Juventude Comunista e do Movimento Universidade Popular, a universidade tem um papel central na formação e na produção de conhecimento. Deve, portanto, cumprir um relevante papel social, sendo a essência da universidade um espaço de ampla fluidez de ideias. A formação acadêmica e profissional não deve ser simplesmente para a produção ideológica do regime econômico e político dominante, oferecendo nada além de subsídios ao mercado, mas sim com formação e fomento de agentes transformadores da atual realidade social, contribuindo assim para a emancipação do pensamento humano.

Para tanto, propomos o debate sobre os rumos da universidade, com a perspectiva que ela se torne uma Universidade Popular. Entendemos que é errado que os trabalhadores brasileiros são os que sustentam uma estrutura como essa e que a mesma não consiga, ao menos, dar minimamente os resultados da produção de seu conhecimento de volta. Propomos que a universidade através da pesquisa e extensão consiga trabalhar para o benefício da população em várias áreas: da tecnologia, da educação, da saúde, da agricultura, dentre outras, quebrando a virtual distância entre universidade e sociedade.

Defendemos uma educação pública, gratuita, de qualidade e socialmente referenciada. Se para isso, tivemos que apoiar os professores por melhores salários ou fazer plebiscitos sobre o aumento de verbas para a educação, assim vamos fazer. Notem a semelhança para que consigamos alcançar tais objetivos: primeiro a discussão entre a comunidade acadêmica e setores da sociedade que incluem até os movimentos sociais e por último, lutar incessantemente.
A contribuição da União da Juventude Comunista sobre o debate de democracia para a UFMG e a polêmica sobre a participação dos Partidos Políticos



Nós da União da Juventude Comunista entendemos como fundamental uma reflexão por parte dos estudantes sobre as muitas concepções em torno do termo democracia. E qual democracia nós, comunistas, defendemos para o DCE UFMG?

As entidades de base são eleitas em processos eleitorais bem mais simples, baratos economicamente e com um debate muito rico sobre a realidade dos estudantes. São os verdadeiros representantes dos mesmos, pois estão mais próximos do seu dia a dia e de suas principais reinvindicações.

É evidente que quaisquer reivindicações precisam de espaços abertos a participação. Existem várias propostas, mas a nosso ver, um espaço consagrado do movimento estudantil, onde vários pensamentos, ideologias se encontram é no Conselho de DA´s e CA´sPortanto defendemos a realização de muitos Conselhos de DA´s e CA´s em 2012 e que suas decisões sejam soberanas e imediatamente acatadas pela nova gestão. Entendemos que a chapa ONDA, não representa perfeitamente quase quarenta mil estudantes e os D.As podem contribuir para uma representação mais ampla, enriquecendo o debate sobre os rumos da universidade que queremos.

Durante a campanha a chapa ONDA se reivindicou apartidária e disseminou na comunidade acadêmica o mito de que a raiz dos problemas aqui enfrentados perpassa pelos partidos políticos. Mas para entender melhor este contexto existem duas questões que devem ser discutidas com clareza: a participação de partidos políticos no movimento estudantil e aparelhamento das entidades estudantis.

A União da Juventude Comunista não vê nos partidos políticos, nem os estudantes a eles ligados, a fonte das principais contradições do Movimento Estudantil. Muito pelo contrário, é na pluraridade da expressão de pensamentos e na unidades de setores da esquerda partidária e independentes que várias conquistas foram feitas! Propor a exclusão total dos partidos políticos tentando resolver a crise do movimento estudantil é o mesmo que defende os “apartidários” da revista Veja e do Estado de Minas. Aliás, para defender a ideologia dos partidos políticos não é necessários filiar a eles, é só aceitar o que eles defendem e propagar suas ideologias.

Voltando a gestão Onda, nos dirigimos a mesma contestando a sua tentativa de não se posicionar como, nem de direita, nem de esquerda, mas sim, que será uma gestão que defende os estudantes, como se os “estudantes” fossem um grupo homogêneo de pensamento e de interesses. Defender os estudantes é uma obrigação do DCE, mas neutralidade política só existe na possibilidade de não existir relações políticas. Talvez isso seja possível caso algum ser humano consiga viver sozinho em outro planeta. Como isso não é possível até o momento, respeitaremos o fato de não querer ser rotulados, falando de qual lado vocês estão, logo, ficamos com a célebre frase de Karl Marx que diz: “o critério da verdade é a prática”.

Faremos Oposição Independente e Consciente

A União da Juventude Comunista e o Movimento Universidade Popular fará uma oposição independente em relação a gestão “Onda”, ou seja, temos a liberdade para criticá – los ou elogiá – los quando necessário, admitindo até trabalhos conjuntos para o benefício dos estudantes. Mas nos comprometemos perante toda a comunidade acadêmica a fazer a oposição mais responsável e inteligente possível. Não esperem de nós palavras de ordens vazias, intrigas sem sentidos, manifestações intolerantes, mas atitudes concretas que se manifestarão nas nossas idéias e nas nossas práticas diárias exemplares.

Mas daremos um conselho importante para a próxima gestão. Uma grande virtude da esquerda é trabalhar para descentralizar o poder. Em relação ao DCE, reiteramos e pedimos que a gestão Onda respeite os DA´s e CA´s no Conselho, procure fazer plebiscitos estudantis na universidade e tentar dar voz a pluraridade de pensamentos entre os estudantes. Também pedimos que debates sejam feitos sobre vários temas da atualidade com pessoas de várias óticas de pensamento, com a perspectiva de estimular a politização dos estudantes. Finalizando, solicitamos a realização do Congresso dos Estudantes, vide estatuto do DCE UFMG.





Por fim, ao invés de tentar esfriar os ânimos com um algodão doce, deixamos a mais doce reflexão de um grande poeta e revolucionário alemão:

“Mas quem é 
o partido?
Ele fica sentado
em uma casa com
telefones?
Seus pensamentos
São secretos,
Suas decisões
Desconhecidas?
Quem é ele?

Nós somos ele.
Você, eu, vocês – 
Nós todos.
Ele veste sua roupa,
Camarada, e pensa
Com sua cabeça.
Onde moro é a casa
Dele, e quando você é 
Atacado ele luta.”

Bertolt Brecht

  
União da Juventude Comunista

Movimento Universidade Popular – UFMG

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